Por Ana Carolina Minozzo, de Londres *
Entrada da LN-CC, em Dalston ©Reprodução
Pense em um vestido delicado da maison belga Martin Margiela ou num terno desconstruído da coleção de 1999 do inglês Raf Simons. Agora pense em onde encontrá-los.
Nada de vendedoras de porcelana, vitrine impecável e ruas glamorosas. Estas e tantas outras peças luxuosas fazem parte do acervo de um novo conceito nascido no efervescente leste de Londres: O Late Night Chameleon Cafe, ou LN-CC.
A ideia surgiu na cabeça do coletivo por trás da marca, cada um com uma história diferente e carreiras de sucesso na indústria, e em menos de um ano concretizou-se. O objetivo era simplesmente criar algo que refletisse a relação que eles nutriam com a moda, sem pretensão, com muito input artístico e um respeito pelas roupas, pelos materiais que as constituem e os criadores por trás delas.
A cada temporada, o menu de designers muda e as peças escolhidas são aquelas que correspondem à riqueza estética da loja. Nomes como Dries Van Noten, Jil Sander, Ann Demeulemeester e Junya Watanabe perambulam pela coleção de curadoria do LN-CC, com peças masculinas, femininas e acessórios. Quase 80% das vendas são realizadas on-line, pelo website da marca, que apresenta toda a linha de produtos disponíveis de forma minimalista e eficiente.
A liberdade garantida pelo fato do business rolar na internet é apreciada no universo físico através do concept space localizado no bairro de Dalston, um endereço pouco desejado até recentemente, em uma rua não muito limpa, ao lado de um estacionamento e em frente a uma mesquita turca. Tudo acontece quando você entra por um beco sem saída sem placas ou sinais, aperta a campainha em frente a um portão de ferro e espera pela voz perguntando se você marcou horário para uma visita. A porta abre, indicando o porão de um prédio de estúdios de arte, com uma escada iluminada por luzes vermelhas, com cara de qualquer coisa menos uma loja de roupas.
Lá dentro uma espécie de portal feito de galhos inicia uma estrutura de madeira, com luzes quentes, que funciona como a coluna vertebral do LN-CC. Ao entrar você não vê moda, você passa por uma experiência sensorial. Nas laterais, quatro espaços com temas diferentes funcionam como display das coleções, além de uma livraria e acervo de discos de vinil. Ao fundo, uma pista de dança, que é ocupada aleatoriamente por DJs e amigos, enquanto você fica no provador espaçoso, experimentando sua seleção de produtos.
Uma visita ao LN-CC não significa necessariamente que você consumirá moda, eles ficam contentes se você sentar para ouvir música, dar uma olhada nas pinturas em exibição ou ler um livro. O espaço é, segundo Charlotte Hall, integrante do coletivo, “como um pequeno santuário, silencioso e quente, escondido da rua barulhenta”. Contrastes do luxo e do lixo, do detalhado e do cru, do real e do imaginário são parte da essência deste conceito de moda, que tem cara de futuro com seu experimentalismo simples e inteligente.
A livraria da multimarcas londrina
Quem vem a Londres nestas férias não pode deixar de conferir a novidade. Mas quem fica no Brasil também pode aproveitar. A LN-CC começou a entregar no Brasil – sem taxa de frete e em apenas três dias – e tem planos de expandir sua atividade no país. Em breve o website terá uma versão em português e eles estão estudando o consumidor brasileiro para melhor atendê-lo. O Brasil, segundo eles, é onde tudo está acontecendo agora e o mercado de luxo está de olho nos brasileiros. Apesar da forte influência de marcas mais tradicionais como Louis Vuitton e Gucci no imaginário nacional, o LN-CC tem certeza que há espaço para uma moda mais conceitual, já que o Brasil é um berço artístico e intelectual.
Finalmente dá para encontrar peças dos melhores criadores de moda avant-garde no nosso país. Viva a internet.
*Ana Carolina vive em Londres e é pesquisadora de moda e escritora