por Nuta Vasconcellos
Doze Green ©Juliana Knobel
O norte-americano Doze Green começou sua carreira pelas ruas de Nova York em 1974, com passagem pelo respeitado Rock Steady Crew, um dos precursores do movimento b-boy, aparecendo até em filmes clássicos como “Flashdance”. Doze é conhecido por misturar técnicas inovadoras com conceitos metafísicos, e nessa edição do SPFW, à convite da marca Chilli Beans, ele trouxe sua arte aos corredores da Bienal. Conversamos com o artista e ele nos contou como surgiu o convite, e o que ele acha da glamourização do grafite.
Como surgiu o convite para sua participação na SPFW?
Fui convidado pela marca de óculos Chilli Beans e na verdade eles me contataram por e-mail! Eles pesquisaram vários artistas, e eu fui o escolhido. Sou sortudo! (risos)
O que você acha dessa nova fase do grafite em que grafiteiros têm seus trabalhos à venda em galerias de arte, e muitas vezes até por preços bem altos? O que você acha que tem de positivo e de negativo nisso?
Isso é bem conflitivo pra mim… primeiro porque acho estranho a forma como as pessoas colocam o grafite como se fosse algo novo, sendo que é um movimento que começou há 35 anos. Mas eu vejo assim, nos anos 80 éramos uma comunidade, era a introdução da cultura, algo que só quem fazia parte daquilo conhecia. Hoje isso atinge pessoas que não são ligadas ao movimento, mas curtem a arte, e isso é positivo, como o reconhecimento de um trabalho. Mas por outro lado, vejo trabalhos completamente ordinários, que não teriam valor algum dentro da cultura, em galeria de arte sendo vendido por preços absurdos. Isso eu não acho positivo, mas acredito que faz parte.
Você conhece o grafite do Brasil? Gosta? Tem artistas favoritos?
Conheço e gosto muito. Aliás, gosto da arte em geral que vejo na América Latina, mas especialmente no Brasil e no Chile. Meus artistas favoritos por aqui são Os Gêmeos e o Speto.
Você frequentou a School of Art and Design mas também cresceu nas ruas como um membro da cena do hip hop. Você acha fundamental para a nova geração ter esses dois tipos de experiência? A das ruas e a de uma escola de arte?
A maior escola do grafite é a rua. Ali você desenvolve seu estilo, vê outros trabalhos, conhece outros artistas e aprende a fugir e a correr! (risos) O que também funciona como um ótimo exercício.
Tenho me preocupado com as escolas de arte na verdade… porque grandes nomes do grafite estão indo dar aulas nessas escolas, e acho que isso acaba limitando essa nova geração. Muitos deles estão virando “copia e cola” dos seus professores, porque eles não vão pra rua, sentir o que vem deles. Estão pintando telas em salas de aula, reproduzindo algo. Não é generalizado, mas acho que está acontecendo muito. Eles têm que ir pra rua, ficar sujos! (risos)
Obra assinada por Doze Green na Bienal ©Juliana Knobel