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    Pequeno grande homem: o eterno alfaiate Alaïa volta com tudo (e língua afiada)
    Pequeno grande homem: o eterno alfaiate Alaïa volta com tudo (e língua afiada)
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    pazzedinealaianaomi5eo-478x583A então jovem Naomi vira gigante perto de Azzedine Alaïa ©Reprodução

    O estilista Azzedine Alaïa é mesmo uma figura única. Há ao menos duas décadas ele se mantém um dos designers preferidos de celebridades, socialites, primeiras-damas e fashionistas sem se curvar à indústria da moda. Virou um mito, que tem sucesso comercial ao mesmo tempo em que goza de total independência criativa para trabalhar. Duro crítico do sistema da moda, Alaïa também é um grande provocador, sempre expressando sua opinião a respeito de pessoas chave da indústria, como Anna Wintour e Karl Lagerfeld (leia abaixo). Ele vira as costas para a obssessão da moda pelo novo.

    Mas a moda ama Alaïa. As mulheres adoram vestir suas roupas de corte perfeito e as lojas amam vendê-las. Toda essa idolatria virou uma homenagem em seu desfile na semana de alta-costura em Paris, o primeiro em um gap de oito anos, em que o estilista foi ovacionado e aplaudido de pé por Donatella Versace, Sofia Coppola, Kanye West e toda a elite fashion. Deve ter sido um grande momento.

    Azzedine trabalha com a mesma tecelagem há 30 anos, o que possibilita a exploração dos materiais e a descoberta de novas técnicas. Em sua apresentação, ele mostra seu design apurado, perfeito, com domínio total da silhueta em 25 looks que equilibram glamour, sensualidade e sobriedade e que podem vestir da nova realeza (Charlotte Casiraghi, Catherine Middleton…) às primeiras-damas Michelle Obama e Carla Bruni, já adeptas de suas criações, passando por atrizes em momentos red carpet (os vestidos do final são especiais, sonhos modernos).

    ALAIA colagemOs vestidos de sonho de Alaïa, no desfile de Alta-Costura, em Paris ©Reprodução

    Alaïa diz que prefere focar nas roupas do que em “it-bags”. E é essa sua paixão e independência que o fazem ser tão respeitado e reverenciado. Ele consegue ser o outsider mais insider que existe. Foi convidado para substituir Galliano na Dior. Se a gente achava que Galliano não tem substituto, taí um nome que faria esse trabalho com inventividade e beleza. Mas ele não quis. Também não aceitou a medalha Légion d’honneur, oferecida por Sarkozy. “Não gosto dessas coisas decorativas”, disse na época.

    Ele prefere se manter no controle total de suas atividades, atende as clientes pessoalmente e mantém um hotel pequenino em Paris, o 3 Rooms by Azzedine Alaïa. No prédio vizinho, planeja criar uma Fundação Alaïa. Como se vê, é um pequeno grande homem.

    HISTÓRIA

    Azzedine, 71, nasceu na Tunísia e seus pais plantavam trigo. Foi uma amiga de sua mãe que deu a ele suas primeiras cópias da “Vogue”, que levaram o jovem a entrar na Escola de Belas Artes, onde começou estudando escultura (o início de seu trabalho como escultor da silhueta feminina).

    Em 1957, já formado, mudou-se para Paris onde trabalhou com Dior, Guy Laroche e Thierry Mugler até abrir seu próprio atelier, em 1970. Nessa época já vestia estrelas como Greta Garbo, que entrava disfarçada em seu showroom. A primeira coleção de ready-to-wear foi mostrada em 1980 e, quatro anos mais tarde, recebe o prêmio de Melhor Estilista e Melhor Coleção do ano. Ele ajudou a criar a moda da década de 80 com seus vestidos colados e esculturais.

    Nos anos 90 ele se afastou após a morte de sua irmã, que morreu de câncer, mas continuou a atender suas clientes no atelier e longe das passarelas.

    grupo 1Foto clássica de um dos grupos de modelos usando criações do estilista ©Reprodução

    ALAÏA POR ALAÏA

    “A única preocupação de um estilista deveria ser sua criatividade. Mas hoje em dia não há mais tempo para isso. Ninguém mais tem tempo para desenvolver uma silhueta ou um tecido especial. Há exceções, como o que Nicolas Ghesquière faz na Balenciaga e o que Alber Elbaz faz na Lanvin. Mas os estilistas trabalhando para grandes maisons, como a Louis Vuitton, têm pouco tempo para refletir”.

    “A gente não pode espremer os novos talentos como limões e depois jogá-los fora. Quatro coleções femininas, quatro masculinas, mais quatro comerciais e tudo deve ser feito em quatro meses… É desumano”.

    “Novos talentos, como Haider Ackermann, devem se cuidar. Assinar um contrato hoje é o mesmo que assinar um contrato com o diabo. Haider não pode trabalhar nas suas coleções e ainda fazer as da Dior, por exemplo. Claro que há exceções, como Karl Lagerfeld. Ele pode fazer Fendi, Chanel, fotografar, filmar, beber Diet Coke, mas isso é outra história. Há apenas um Karl Lagerfeld”.

    “De qualquer forma, eu não gosto de sua moda, do seu espírito, da sua atitude. É muito caricato. Lagerfeld nunca tocou numa tesoura em toda a sua vida”.

    “Eu gosto do sucesso, mas você não deve deixar que ele suba à cabeça. Sabe, desde o início, eu poderia ter sido o estilista mais bem pago do mundo. Eu recebi ofertas de contratos dos mais altos e eu disse não a todos eles. Não é a minha coisa. Eu não quero trair as pessoas e também há certas figuras que me dão alergia. Até mesmo com clientes eu sou assim. Se não gosto, não vendo”.

    “Todas as manhãs, quando eu acordo, eu me pergunto: o que vou aprender hoje? Quando me levanto, me sinto feliz por estar vivo, por não ter nenhuma doença. Por me sentir bem. E então me pergunto: quem será que vou conhecer hoje? A beleza de trabalhar na moda é que te dá a oportunidade de conhecer muita gente interessante. Eu acho que conheci as pessoas mais incríveis do mundo e sou muito grato à isso”.

    “Tenho tentado manipular as roupas por 30 anos, mas até hoje há coisas para eu aprender. Às vezes eu refaço a mesma peça cinco ou seis vezes e fico sempre em dúvida. Não sou muito confiante. Nem mesmo quando me dizem que sou um estilista com influência. Não vejo dessa forma. O Sarkozy me ofereceu a medalha da Légion d’honneur e eu recusei. As pessoas falam que eu disse não pois não gosto do Sarkozy, o que é ridículo. Recusei porque não gosto dessas coisas decorativas. A não ser nas mulheres. Um vestido meu em uma mulher, aí sim é uma linda decoração”.

    “Já disse antes. Anna Wintour dirige um negócio, mas não a parte de moda. Ela apenas faz um trabalho de PR e ainda assusta as pessoas. Mas quando ela me vê, é ela que fica com medo (risos). Quando vejo como ela se veste, não acredito no seu gosto. E eu posso dizer isso em alto e bom tom. Ela não fotografa meu trabalho há anos, mesmo eu sendo um best seller nos Estados Unidos. As mulheres americanas amam a minha marca e eu não preciso do apoio dela. Muita gente pensa como eu, mas tem medo de dizer e ser ignorada pela “Vogue”. De qualquer forma, quem é que vai lembrar de Anna Wintour na história da moda?”.

    “Pegue Diana Vreeland, por exemplo. Ela é sempre lembrada porque era tão chique. O que ela fez com a revista foi maravilhoso, com Avedon e todos os outros grandes fotógrafos. A “Vogue” continua enquanto suas editoras de moda vão e vêm”.

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