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    Garance Doré
    Garance Doré
    POR Camila Yahn

    Garance na frente do hotel Fasano, em São Paulo ©Juliana Knobel/FFW

    Garance Doré está em um lugar privilegiado: bonita, inteligente, segura, com opinião e bem sucedida profissionalmente e na vida. Ela fez parte da cena dos blogs quando esta explodiu e desde então tem conseguido construir sua carreira de forma consistente, independente e honesta. Namorada do fotógrafo Scott Schuman, o Sartorialist, outro ícone dessa geração, ela mora em Nova York e veio ao Brasil para fotografar um ensaio para a revista “Vogue”.

    Às vésperas de uma viagem para a Corsica para visitar a família, ela se encontrou com o FFW no hotel Fasano para uma conversa sobre fotografia, carreira, internet, moda e, claro, blogs.

    Em 2006, quando você começou, o seu blog foi um dos primeiros a fazer sucesso com um trabalho autêntico e de qualidade. Hoje esse universo é enorme, com milhares de blogs de moda e a qualidade nem sempre é uma preocupação e há muitos anúncios escondidos no meio dos posts.

    E você pode sentir isso em um segundo. Acho que os blogs cresceram muito porque não custa nada, então todo mundo pode ter um. E quando não precisa colocar muito investimento, você pode achar “ah, é uma mídia barata, posso postar um conteúdo barato”. É ótimo que há milhões de blogs porque as pessoas podem se expressar de uma maneira como nunca vimos antes e eu não acho que todos devam sofrer a pressão de ter blogs super bem feitos e de qualidade. Se as blogueiras colocam fotos e não são incríveis, tudo bem, no final das contas é o trabalho pessoal delas.

    Quando você acha que foi sua maior transição profissional?

    Levei muito tempo para descobrir o que queria fazer. E a cada ano acho que é um momento importante de transição, pois cada vez mais consigo trabalhos melhores. Agora recebi com Scott o Media Award no CFDA 2012, que mostra um reconhecimento da indústria da moda. Então as coisas acontecem no seu tempo e eu gosto assim. Não quero ter sucesso rápido.

    O que você acha dos blogs terem se tornado muito comerciais?

    Em 1981 na França, abriram espaço na rádio para todos. De repente todo mundo podia ter sua própria estação de rádio e em um minuto havia milhões delas, boas e ruins. Apenas algumas sobreviveram porque eram muito boas e tinham uma preocupação com qualidade. Assim como os blogs, é um espaço que pode funcionar como promoção pessoal ou para mostrar sua arte. Mas muita gente quer pegar o caminho mais curto para ganhar dinheiro. E eles fazem dinheiro por um tempo, mas qualidade, no final, é o que funciona e o que mantém uma coisa viva. De qualquer forma sempre houve audiência para coisas comerciais. Não é um grande problema.

    Eu e Scott temos feito um trabalho que mostra que nos mantemos livres mesmo que tenhamos crescido e nos tornado mais “oficiais”. Mas às vezes é difícil porque as pessoas pensam que todos os blogs são comerciais e não é verdade. Você pode ser reconhecido e ter sucesso e se manter independente.

    Por que os blogs com looks diários de blogueiros fazem sucesso?

    Acho que tem muita gente que quer saber como as “pessoas bonitas” vivem. Eles não podem ter aquelas roupas, mas querem ver quais são, como usam, etc. No Brasil isso é muito forte.

    Eu comecei com zero dinheiro. Também não tinha as roupas, mas tinha minhas ilustrações, meus textos, meu trabalho criativo. Tavi era uma criança quando começou e ela não se vestia com muito dinheiro. Ela consegiu fazer algo interessante e ter muito sucesso. A coisa das blogueiras de moda que postam fotos de seus looks todos os dias é que pode se tornar algo cansativo. No final é a qualidade da sua expressão que importa, senão as pessoas ficam entediadas.

    E também é uma questão de geração. É um culto à personalidade, o gosto por mostrar o que você faz, se exibir. A geração mais nova gosta disso, eles não acham que é louco, acham que é normal. Eu, por exemplo, me sinto estranha se posto uma foto minha…

    Você encontrou uma forma de de fazer dinheiro e se manter independente e conectada ao que é verdade para você.

    Eu não sou apenas uma blogger, também sou fotógrafa, ilustradora e escritora. Faço campanhas, ilustrações, editoriais para revistas… E o blog tem anúncio, mas se algum cliente diz: “eu coloco um anúncio, mas você tem que inserir um produto no seu post”, eu posso dizer não, porque faço dinheiro com outros trabalhos e mantenho meu blog totalmente independente. Eu não minto para os meus leitores. Ninguém pode comprar post no meu blog.

    Muitos blogueiros que ficaram conhecidos com blogs agora estão migrando para website. As pessoas estão cansadas dos blogs ou é uma evolução natural?

    Acho que os blogs estão apenas começando. No futuro todo mundo vai ter um. Você pode fazer um site como uma evolução natural. Se você não gosta de se expressar muito, o site é um caminho melhor. Se você faz a história look of the day, talvez após algum tempo se canse e queira crescer. Mas as pessoas não ficam conectadas a um site da forma que ficam com um blog, disso você pode ter certeza. Eu cresço também, mas mantenho um ponto de vista muito pessoal.

    Uma das fotos que Garance fez para o lookbook da Chloé Primavera/Verão 2012 ©Reprodução

    Quando entramos no seu blog, temos pinceladas do seu próprio universo, é tudo muito pessoal e dá a sensação de que conhecemos um pouco de você.

    Sim, isso é verdade e acontece muito. Muitas pessoas acham que são minhas amigas. Hoje em dia, quando me encontram, ficam um pouco nervosas porque acham que sou um tipo de celebridade. Mas depois de um minuto já relaxam. Mas meu nível de celebridade é pequeno, o que é ótimo, pois posso fazer o que quiser.

    Você começou sozinha com o blog e hoje tem uma vida bem atribulada. Como é a sua estrutura?

    Hoje tenho um agente e duas assistentes, uma que me ajuda com moda e outra que me ajuda com todo o resto. Mas eu faço a maior parte, inclusive muitas das traduções para o inglês. Meu blog é muito “handmade”. Se fico sem vê-lo por dois dias já me sinto estranha. É como se eu ficasse longe de um filho pequeno.

    Como foi, tecnicamente, quando você começou a fotografar para revistas e campanhas?

    Meu primeiro trabalho assim foi para a “Elle” francesa, há três anos. Eu fiquei sem dormir por causa dele. Eles me ligaram e disseram: “Temos 16 páginas para você”. Eu não sabia como fazer, mas você não diz não para um convite desses. Quando cheguei ao set havia dois caminhões de produção de filme e levei o maior susto. Não sabia mesmo como ia resolver aquilo. Saí para fumar um cigarro e encontrei com o motorista de um dos caminhões e desabafei: “É o meu primeiro shooting e não sei o que fazer”. E ele, que trabalhava muito nesse meio, me explicou um monte de coisa. No final ele disse: “Você ainda vai ser uma fotógrafa famosa”. E há pouco tempo cruzei novamente com ele e eu estava fotografando para a Chloé. E ele riu: “Eu te disse!”.

    Que câmera você usa?

    Uma Cannon 5D.

    Você disse em uma entrevista para a “Interview” que faz parte de uma primeira geração de fotógrafos que não depende de revistas porque tem suas próprias mídias e todos vêem as fotos que vocês fazem. Qual a sua visão da mídia impressa?

    A internet está cada vez mais importante e vai ser mais importante que o impresso. E não acho que seja o fim do jornalismo ou da fotografia, mas as pessoas têm que descobrir novas formas de criar. Acho que muitas revistas vão desaparecer. As que ficarem serão lindas como um livro. Adoro ver fotografia no meu iPad, por exemplo. A minha irmã mais nova e as filhas do Scott, que têm 10 anos, nem olham para revista. Elas lêem os livros no Kindle ou no iPad. Não acho triste, acho que é um ótimo momento. O importante não é a mídia, mas a cratividade, o trabalho em si.

    Como você descreve a sua linguagem estética?

    Amo o Brasil porque há grandes sentimentos e há o sol e a luz. É um lugar que me desperta emoções e eu acho que tenho essa visão de vida. Vejo muita luz, felicidade e emoção em torno das pessoas. Aqui há muita generosidade. E é isso o que quero expressar nas minhas fotos.

    Você é leitora fiel de algum blog?

    Não, mas olho muito no Tumblr.

    Você também posta no Tumblr?

    Eu tenho uma conta, mas não abasteço. Há muitas redes sociais, Tumblr, Instagram… Não consigo postar tanto conteúdo assim.

    E você está otimista em relação ao novo governo da França?

    Acho que os franceses estão bem felizes. As pessoas têm que acreditar que tempos melhores virão e essa eleição está fazendo o povo acreditar nisso.

    + Releia nossa primeira entrevista com Scott Schuman e Garance Doré

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