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    POR Camila Yahn

    Looks de Walter Rodrigues com foto do estilista após seu desfile de Inverno 2012 no Fashion Rio ©Agência Fotosite

    Na última semana, o estilista Walter Rodrigues anunciou sua decisão de deixar as passarelas e encerrar sua carreira que completa 20 anos. Walter, que integra o calendário brasileiro da moda desde quando este estava no início de seu desenvolvimento, já desfilou no SPFW, Fashion Rio e também na semana de moda de Paris. Seus famosos vestidos já foram usados por primeiras-damas, atrizes e socialites, que o procuravam atrás de seu rigor no acabamento e na modelagem. A cada desfile, ele contava uma nova história e a inspiração poderia vir do Brasil, Peru, da China ou do Japão, este último uma forte influência em sua trajetória como estilista.

    Agora, percebendo as grandes mudanças que têm ocorrido na indústria da moda na última década (o surgimento do fast fashion e a chegada das grifes internacionais ao Brasil, entre elas), Walter decide fechar sua marca, manter seu trabalho como consultor e encarar novos desafios. “Trabalhar  só para pagar as contas e não saber como fazer para o outro mês não dá”. Em meio a mais uma grande mudança – de casa – ele parou brevemente para conversar com o FFW sobre passado, presente e, claro, futuro. “Tirei um peso enorme dos ombros, estou confiante e feliz com o que o futuro me reserva”.

    Foi difícil tomar a decisão de finalizar sua marca?

    Sim e não (risos). Faz tempo que venho observando o cenário da moda brasileira e as mudanças são enormes, o varejo modificou de tal forma nos últimos dez anos e mais ainda nos últimos cinco anos…  Há uma facilidade de escolha do consumidor de qualquer classe, a implementação do sistema de fast fashion, Zara, Renner, C&A, Riachuelo… Os conglomerados de luxo… Estas mudanças fizeram com que os lojistas de multimarcas buscassem soluções que podem ser via Bom Retiro e Brás. Veja bem, eu não sou contra a evolução e nem contra a ampliação das oportunidades para que a moda seja acessível, mas fazer um produto autoral, com um super acabamento, com tecidos incríveis e ainda juntar o custo Brasil, e mais o empobrecimento estilístico dos lojistas, tudo isso torna o cenário um tanto tenebroso.

    Veja também no segmento de vestidos de festas e casamentos: todas querem um acabamento de alta costura, tecidos importados por preços de picaretas. E temos muitos picaretas neste segmento, então ficar trabalhando para só pagar as contas e não saber como fazer para o outro mês não dá. Há um momento em que a criação tem que ser colocada à prova, uma prova de coração e se você escolher ser feliz, então é hora de buscar novos desafios.

    Que outros motivos resultaram nessa sua mudança de rumo?

    Acredito que estou menos idealista, sempre fui um romântico incurável… E muitas vezes lutei contra tudo para vivenciar minha experiência criativa, mas tem um momento em que você olha para tudo o que quixotescamente já fez e diz: não tenho nada mais para provar, nem para mim, nem para as pessoas que vestem minhas roupas e então tudo se acalma. Sempre tive uma paixão incrível pelo que faço, mas diante da necessidade de investir em pontos de venda, mais pessoas para todos os setores, criação, desenvolvimento de produto e comercialização… Tudo é tão faraônico que eu preferi ficar feliz e fazer aquilo que me encanta hoje, que é compartilhar conhecimento e ao mesmo tempo manter minha curiosidade ativada e, principalmente, estar tranquilo com minha decisão.

    Em que projetos ou atividades você está envolvido?

    Há sete anos, de uma forma empírica, comecei a desenvolver um projeto de design para o setor de componentes de calçados, convidado por Ilse Guimarães, Superintendente da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos). Tenho sob minha coordenação o Núcleo de Design Assintecal e Abicalçados e fazemos uma pesquisa com uma antecedência de dois anos para fortalecer o setor de componentes  e ajudar o calçadista a encontrar a originalidade em detrimento das cópias, ganhando mais em valor percebido do que simplesmente concorrendo com a China ou com o Vietnã. Tenho trabalhado também na Serra Gaúcha, precisamente em Caxias do Sul, em um projeto encantador baseado na pesquisa da identidade e nos fazeres da Serra. E estamos projetando estas descobertas em oito empresas da região, empresas de moda, joias e tecidos, todos muito preocupados em imprimir seu DNA em seus produtos para diferencia-los.

    Do que você lembra com mais carinho olhando para tudo o que você já fez?

    Puxa, de muita coisa… Do início de tudo com o Paulo Borges, a Graça Borges, depois a Roberta Marzolla, o Cesar Fassina, o Cristiano Madureira… Da Erika Palomino e de todos os participaram desta arrancada nos anos 90. Poder criar, ter apoio para ser autoral, os desfiles, as modelos, Mauro Freire, Celso Kamura, Carrasco, Robert Estevão… Os meus assistentes e, sem dúvida, do carinho e da presença sempre adorável do Zeca e de toda uma geração de pessoas com muito talento que fizeram das semanas de moda do Brasil um lugar impecável. Eu desfilei em Paris e sempre sentia saudades daqui (risos). Éramos desbravadores e fizemos tudo muito bem feito!

    Fila final do desfile de Walter Rodrigues Verão 2009 

    De quando você começou até hoje, o que mais mudou na indústria da moda?

    O tempo de fazer, o tempo de degustar. Tudo é mais rápido agora e também mais vulnerável, frágil e não há mais a preocupação de ter uma imagem de estilo. Tudo se resume em ser  uma It Girl – uhg! – e em vestir a última proposta da arara. Está mais vazio e sem emoção. Temos que desacelerar, pensar nos processos do fazer, na qualidade do processo como um todo, sendo contemporâneos, mas com alma e menos corporativistas. É importante pensar que roupas ou qualquer produto de moda contam uma história, de onde você foi feliz, do seu primeiro encontro, de um dia triste, enfim, tudo isso remete a conhecimento, a estilo que deve ser depurado, aprendido todos os dias e não tentar ser apenas a próxima cereja do bolo e depois ser esquecida. Devemos entender melhor o poder da imagem, do que ela transmite, do que significamos e de como nossas escolhas afetam a nossa história de vida. Moda não é só cobrir o corpo. É e sempre será uma forma de expressão.

    Você acha que vai sentir saudades?

    Parar de fazer coleções e desfilar não significa parar de pensar em Moda e de compartilhar meus conhecimentos e minha paixão. Com certeza estarei trabalhando em projetos que envolvem moda, fui treinado para isto e descansar da tesoura e da linha não precisa ser abandonar o estilismo. Posso exercê-lo em outros lugares e de outras maneiras.

    Você gostaria de trabalhar como estilista contratado por outra marca? 

    Já pensei nisto sim, adoraria fazer a direção criativa para uma marca sólida e também colaborar com uma grande empresa de varejo sem assinar coleções. Acho isto desgastado, mas por que não uma coleção de básicos para serem comercializados por e-commerce, por exemplo? Tenho pensado muito na Copa do Mundo e na Olimpíada – veja, estão sendo estimados 600 mil visitantes, se eles comprarem três presentes cada um, serão um milhão e  800 mil presentes que poderiam ser de camisetas, vestidos, cintos, bolsas a joias. Até porque quem virá para estes eventos, penso eu, são na maioria homens, e vai haver certa culpa (risos)… Então um presente sempre resolve. Bom, eu espero que eles não levem apenas fitinhas do Senhor do Bonfim ou uma Havaiana! Temos que ter produtos lindos para oferecer, será uma oportunidade única de expressarmos e vendermos nosso jeito de ser. Então estou pronto para desafios!

    Um período de mudanças também sempre traz energia nova. Você está animado?

    Animado é pouco. Primeiro confesso que tirei um peso enorme dos ombros, estou confiante e feliz com o que o futuro me reserva, e, sobretudo, não me arrependo de nada, sei que fiz o meu melhor e tentei sempre com meu talento e com uma dedicação imensa fazer com que as pessoas fossem felizes com minhas roupas. Estou feliz e agradecido pelo carinho que tenho recebido de todos e me sinto pronto para o meu novo e imediato – FUTURO!

    Veja abaixo looks das coleções mais recentes de Walter Rodrigues e veja aqui sua última coleção completa.

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