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    “Em 50 anos, todas as imagens serão públicas”, diz Felipe Morozini
    “Em 50 anos, todas as imagens serão públicas”, diz Felipe Morozini
    POR Redação

    felipe-moroziniFelipe Morozini ©Reprodução

    Felipe Morozini, 35, é um homem de ideias. O fotógrafo e multi-artista despontou nos últimos anos como um dos promissores de sua geração _descendente de italianos, Felipe é paulistano do Tatuapé e hoje publica seus trabalhos em revistas de moda, estampa suas fotos em camisetas, expõe na galeria Zipper (SP), que o representa, vende objetos que concebe, desenha ou altera na Micasa e ainda atua como cenógrafo _sendo o bar Squat, em São Paulo, o mais marcante nesta última seara.

    Em seu trabalho mais notório, “Jardim Suspenso da Babilônia” (2009), ele pintou flores no Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo, para tornar a visão dos que vivem acima dele mais agradável. É ali que mora também, e de onde realiza seu trabalho mais importante: registros do cotidiano das janelas, varandas e sacadas de milhares de moradores, levantando questões mais que contemporâneas sobre espaço urbano e imagem privada versus imagem pública.

    Tantas plataformas simultâneas tornam, à princípio, sua carreira embaralhada e difusa. Mais difícil, também, fica enxergar um objetivo ou enquadrá-lo em uma categoria. “Eu valorizo o processo”, explica Felipe. E completa: “O que as pessoas querem são boas ideias”. E ele está cheio delas — a ponto de desafiar seus assistentes a terem o máximo possível delas em 60 segundos, conversar sobre três assuntos paralelamente e rearranjar a decoração de sua sala.  Simultâneamente.

    Na última semana, Morozini recebeu o FFW em sua casa para uma conversa. Confira na entrevista:

    Por quê escolheu Direito como faculdade?
    Porque… eu era idealista.

    Que ideais eram esses?
    Achava que poderia mudar o mundo. Tinha vontade de ser promotor, defender as pessoas. De ser presidente, tentar melhorar a vida das pessoas. Achava que a justiça e a lei eram a mesma coisa. Trabalhando você vê que a lei é uma e a justiça é outra, principalmente no Brasil. Saí rápido do direito; trabalhei quatro anos durante a faculdade e mais dois em escritório. Seis anos foram suficientes para você saber o que não queria fazer. Eu tinha 25 anos.

    Voce saiu, e decidiu fazer…
    Nada. Fui para a Índia com uma namorada da época. Ela trabalhava em uma ONG contra trabalho escravo infantil, então ficamos uns quatro meses viajando o país inteira. E ganhei uma câmera fotográfica dela. Aí comecei a tirar fotos.

    Você lembra que câmera era? Como foram os seus primeiros contatos com arte?
    Uma Nikon, antiga, de filme. Voltei cheio de fotos bonitas, cheio de idéias, ficamos um mês na Europa e lá eu vi um monte de exposições que abriram a minha cabeça. Até então, nunca tinha imaginado fazer artes plásticas. Ali vi que conseguia falar a mesma coisa que algumas pessoas que tinha visto. Vi uma obra do Leonilson, um travesseiro bordado — ele é um artista brasileiro que já faleceu mas é importantíssimo. Pensei, “Por que não?”. Era uma fronha em um quadro e pensei em bordar coisas bonitas para as pessoas dormirem, fiz uma lista de 50 frases que eu achava legais de ler antes de dormir.

    28822_387329672735_535817735_4253853_8308176_nFronha bordada por Felipe Morozini ©Reprodução

    Aí, meu tio avô faleceu, que morou com a minha bisavó neste apartamento até ela falecer há não sei quanto tempo atrás. Vim para cá, o apartamento estava vazio. Trouxe a minha cama, enchi o quarto de penas, sem noção alguma de nada, e fiz o lançamento das fronhas aqui. Como não sabia o que ia fazer, resolvi vender absolutamente tudo. Neste final de semana, veio um amigo que trabalhava na [revista] Capricho, e falei que queria publicar as fronhas na seção das meninas, na seção “Eu Quero”. Fui na redação e eles estavam precisando de um fotógrafo.

    Como foi a sua experiência na revista? Que tipo de fotos você fazia pra eles?
    Fiquei um ano e três meses. Foi onde eu aprendi a fotografar mesmo, pois não tinha feito curso, não sabia mexer na câmera. Depois de uns três meses comprei uma profissional, ainda de filme. Era algo como 2001. Fazia a revista inteira. Colírios, moda, comportamento, retrato, shows, tudo. Isso que foi legal. Tudo que você imaginar. No mundo teen, é a melhor revista para trabalhar; tinha umas boiadas, como ir junto com os artistas no avião, fotografar tudo que acontecia… só que na raça. Esticando o olho para ver a velocidade [de disparo da câmera] que o seu colega está usando, porque a sua foto está saindo escura e você não sabe o que está acontecendo…

    Você também sempre foi muito da noite, não? Que festas freqüentava?
    Era. Sempre fui, sempre gostei. Por ser do Tatuapé, vir para cá era vir para a cidade, como alguém que mora no interior. Não tinha amigos do meu bairro para vir comigo. Acabei conhecendo todo mundo que hoje trabalha no mercado, há 15 anos atrás. Fui umas quatro ou cinco vezes no Hell’s. Ia no Nation, que achava mais autêntico, e no Sra Kravitz, que era aqui do lado e infelizmente não existe mais. Achava o máximo, porque todos eram completamente diferentes de todos os meus amigos, não via ninguém conhecido.

    Esse apartamento parece ter um papel crucial para o seu desenvolvimento como artista. Você concorda?
    Eu acho. Porque não é apenas como fotógrafo. A hora que mudei para cá, tudo aconteceu junto. Para mim, é um ponto bem importante, antes e depois. Aqui, depois de um mês comprei uma lente que é 300-500mm, que fotografa muito longe. Foi aí que eu comecei a fazer meu trabalho pessoal que me instigou e me instiga durante dez anos.

    17366_291916842735_535817735_3632029_6588072_nImagem pública versus imagem privada: reflexões de um fotógrafo ©Felipe Morozini

    Fale um pouco sobre esse trabalho…
    O que me interessava era sempre imaginar quem são essas pessoas. Quem é a mulher que chora na varanda. Quem é o homem que malha na sacada. E discutir — acho que por ter estudado Direito, sei o quão sério é esse trabalho — porque ele discute ali a diferença de uma imagem pública e privada. Ele deixa margem, você não sabe se é público ou privado. A mulher está tão perto, mas tem milhões de pessoas ali; então aquela imagem é pública. Mas está na varanda da própria casa, que deveria ser um espaço privado. Mas não sei se isso se aplica em São Paulo. Também tem o como você utiliza essa imagem; não estou fotografando uma ou outra pelada. Fotografo a cidade e nela tem uma mulher. Não sei quem é, se não sair o rosto, melhor. Mas às vezes acontece.

    Até onde já foi com esse trabalho? E para onde quer levá-lo?
    Ainda nem começou, o trabalho está começando agora. Acho que essas fotos fazem muito mais sucesso fora do nosso país; aqui você tem essa situação muito clara, lá fora as pessoas ficam chocadas com a questão público/privado; meus representantes me falaram que em NY, em uma exposição de 20 artistas, todos vinham perguntar do fotógrafo que faz fotos das pessoas na varanda. Todos queriam saber como é a questão da imagem. Para mim, em cinqüenta anos, todas imagens serão públicas.

    Não estou ganhando dinheiro, pelo menos por enquanto, com isso. Quero que as pessoas entendam São Paulo através destas janelas, destas varandas. Não vou falar destas pessoas porque para mim é o coletivo, é o conjunto de varandas, não uma ou outra. aí entra essa discussão que é a mais rica. além da formalidade da foto, da poesia que você pode fazer em cima disso. de criar um sonho, essas possibilidades que só a fotografia ou a arte podem te dar.

    Você acha que o seu trabalho tem um raciocinio único que o permeia, num aspecto mais amplo?
    Não. Todos falam da mesma coisa.

    Que é?
    O falar. Colocar para fora o pensamento e ser aceito. Ter uma cidade do tamanho de São Paulo e ter voz. Colar frases pela cidade; em lugares feios colocar o ‘No flash please’, ou na [rua de luxo] Oscar Freire o ‘Cansei de ser moderno’, e as pessoas entenderem isso com bom humor. Acho que está tudo junto. A fotografia, os objetos, as frases, as flores no Minhocão. Mas não tem uma linha que eu pense… é um dia atrás do outro. Todo dia eu tenho uma idéia que procuro executar.

    O que te emociona?
    Ver as pessoas fazendo o bem umas para as outras. Seja em um programa de TV ou na vida real, o que eu mais gosto de ver é quando vejo as pessoas sendo boas umas com as outras. Acho que se você cria laços de amor esse laço se aumenta para outra turma… pode ser meio utópico ou piegas, mas é o que eu acho. O amor é o novo preto.

    64073_436223557735_535817735_5452367_2396908_n Editorial de Morozini publicado na revista “Amarello”(2010) ©Reprodução/ Felipe Morozini

    Quando começou a fotografar moda?
    Quando conheci o [artista plástico e editor de moda] Marcio Banfi. Ele viu ali um potencial. Tinha uma vontade enorme de criar imagens que na minha cabeça já estavam formadas, e precisava de alguém para corroborar com isso. Devo muito a ele, que me livros que mudaram a minha história: do Duane Michaels, do Wolfgang Tillmans, da Marina Abramovich… Que foram super importantes para entender que através da fotografia eu poderia contar uma história. Comecei a fotografar com ele umas idéias nossas para uma revista chamada Velotrol e coisas para agências. Mas sempre achei estranho o termo ‘fotógrafo de moda’. Sou fotógrafo; e pra mim é muito claro, pois já fotografei construção civil, cavalos, moda, retratos, gente famosa… e fotografia é fotografia.

    Você gosta de roupas?
    Não. Sou super desprendido com roupas. Adoro estampas de camisetas, sempre achei um bom suporte. Acabei de fazer uma coleção para a Billabong, cedi seis imagens para eles fazerem uma coleção de t-shirts. O que me mostra como é legal uma camiseta. Mas adoro ver pessoas bem arrumadas, que se produzem.

    E como é a estrutura de business do seu estúdio? Você se enxerga como uma commodditie?
    Acho que eu sou uma empresa. Tenho um fluxo de venda de trabalhos e de objetos que é enorme. Administrar isso é complicado, porque sou a parte criativa da empresa — e acho que só estou começando a pensar nisso agora, na verdade. Tenho dois assistentes mas nenhum gosta da parte chata; são mais dois criativos.

    28539_384756432735_535817735_4196986_2790_nEm 2008, Morozini e amigos pintaram flores no Elevado Costa e Silva, o Minhocão ©Felipe Morozini

    Queria que você falasse um pouco sobre o projeto “Jardim Suspenso da Babilônia”, as  flores do Minhocão. Passaram-se dois anos, como você avalia a coisa toda?
    Quando fiz as flores no minhocão, a coisa tomou proporções na cidade. Foi tão sem intenção de fazer algo para os outros verem, e sim fazer algo para as pessoas que moram aqui sentirem uma alegria, recebi uma onda de amor, as pessoas me mandavam e-mails de todos os lugares, foi impressionante. Essa história me mostrou… que as coisas não tem um fim. Acredito no processo, fazer isso só me mostrou que posso falar mais alto e que não preciso usar palavras. Que são idéias: boas idéias são o que as pessoas querem ouvir. O projeto ganhou o prêmio de “Street Art” do Babelgum, que é um festival da Isabella Rosselini. No festival de design, em Milão, fiz as mesmas flores em uma vila.

    E o mercado de arte? Acredita que a produção artística faça jus a todo esse burburinho?
    O mercado está bem aquecido. Faz jus. É vendida muita obra em uma feira de arte aqui no Brasil, em Miami a mesma coisa. As marcas investem muito para artistas fazerem instalações no meio da Miami Basel, por exemplo, usando ele como sponsor. Aqui não muito, ainda. Mas para mim funciona.

    O que acho é que não comecei ainda. Agora, as pessoas vão ver o meu primeiro trabalho. As pessoas hoje se cobram de ser tudo muito cedo; você não tem maturidade, não tem vontade, você erra, até achar o que vai fazer. Sou o artista mais velho da minha galeria, e não vejo como algo negativo, é um sinal dos novos tempos mesmo. Uma galeria nova, que vê em uma pessoa de 35 anos ideias novas.

    + Flickr: felipemorozini

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