Por Camila Yahn, direto da “FFWMAG” #36
Em entrevista à “FFWMAG”, Alexandre Herchcovitch fala sobre moda, trabalho, amigos, rotina, pontos altos e desafios ©Lucas Bori
Há 20 anos ele carrega o título de principal estilista da moda brasileira. Aos 42, Herchcovitch já fez de tudo um pouco e ultrapassou as fronteiras da profissão, alcançando fãs, consumidores e seguidores com livros, participação em programas de TV, parcerias com amigos diretores, desfiles fora do país, presença nas redes sociais e dezenas de licenciamentos.
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Alexandre vendeu a primeira coleção em 1986, aos 15 anos. Mas foi mais para o fim dos anos 1980 que ele foi influenciado pela efervescência da noite paulistana, que começou a frequentar levado pelo stylist David Pollak, amigo das noitadas na boate do clube A Hebraica. A marca Alexandre Herchcovitch foi fundada em 1993 e causou um barulho no circuito de moda com seu olhar autoral e aberto para novas experiências estéticas.
Descobrir Boy George foi um divisor de águas para o então jovem estilista. “Ele apareceu para mim em 1983, quando assisti ao clipe de ‘Karma Chameleon’ no Fantástico. Fiquei sem respirar e sem piscar. Quem era esse homem que não queria ser mulher, mas usava maquiagem para ficar mais bonito? Inúmeras portas se abriram na minha cabeça”, ele conta sobre a influência, que dura até os dias de hoje.
Ele então já era chamado de o “Alexander McQueen brasileiro”, o “enfant terrible da moda nacional”, entre outros rótulos que apareciam para tentar explicar o calor e a sensação de novidade que pareciam grudadas às suas criações. Em 2008, o estilista vende 70% da marca e passa a trabalhar sob mais pressão comercial. Desde então, vem praticando o equilíbrio necessário entre suas vontades e os desejos dos consumidores. Mas, segundo ele, “não há muito mais o que inventar na moda”, então Herchcovitch continua fazendo o que sempre soube fazer melhor: buscar uma maneira mais interessante de fazer o que já foi feito.
Em conversa com Camila Yahn, fala com sinceridade sobre moda, trabalho, amigos, rotina, pontos altos e desafios. E revela que suas principais virtudes como estilista não são estéticas, mas morais: “Não segrego, promovo o bem e respeito as diferenças”.
FFWMAG – Quais foram os principais desafios na sua carreira?
Alexandre Herchcovitch – O primeiro de todos foi decidir fazer o que faço hoje: roupa, imagem, moda. Depois disso, meu maior desafio foi aprender a construir uma roupa, passar do tecido para uma escultura tridimensional, e isso aprendi com minha mãe dentro de casa. Anos mais tarde comecei a me preocupar em colocar nome em minhas criações, daí o desafio foi fácil, a dúvida era: a marca teria meu nome próprio ou um novo nome? Não tive dúvida de que uma criação tão autoral e que falava tanto de mim tinha que levar meu nome próprio. Com o tempo o desafio passou a ser diferente e com dois olhares opostos: criar livremente e vender minhas criações para continuar a fazer aquilo em que acreditava. Vieram então a possibilidade de exportar, os licenciamentos e, por fim, a venda da marca, que ainda é um desafio imenso, com um dia a dia difícil.
Por quanto você vendeu sua marca?
Pelo que ela valia. Foram momentos de grandes discussões. De um lado, os compradores tentando me provar que ela valia o que faturava, do outro, eu mostrando o que eles ainda poderiam faturar com o alcance nacional e internacional. Existe uma ilusão ao chegar a um valor de uma marca. Quem compra não leva em conta o intangível, o alcance do nome, os anos de branding, o investimento, o quanto ainda se pode faturar com ela, e sim os números reais. É um balde de água gelada. No início, vendi 70% e fiquei com o restante, 30%, que é a mesma coisa que ter 0%, pois era o minoritário, não decidia nada. Agora sou apenas um contratado, sem nenhuma participação, e estou feliz assim.
Que características estéticas definem o seu trabalho?
Procuro sempre uma maneira mais interessante de fazer aquilo que já foi feito. O corpo não muda, temos dois braços, duas pernas e assim vai… Vestir e despir é um jogo que exercito há anos, ora revelo o corpo com peças ultrassensuais, ora a sensualidade está velada e fica por conta de quem vê, não é explícita. Não há muito mais o que inventar na moda. O caminho que decidi seguir me possibilitou criar além do vestuário, e isso é extremamente importante para quem cria: diversificar.
Quais suas maiores virtudes como estilista?
Não segregar, promover o bem, respeitar as diferenças.
Você se considera uma pessoa difícil?
É muito difícil ter uma visão clara do que somos… Essa pergunta deveria ser feitas aos que estão ao meu redor. Acredito não ser uma pessoa difícil, no trabalho ouço todos e nem sempre a melhor ideia é a minha. Sou chato, metódico, insistente, mas generoso e pacificador.
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