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    Cecilia Dean: “Hoje, o conceito original da ‘Visionaire’ é irrelevante”
    Cecilia Dean: “Hoje, o conceito original da ‘Visionaire’ é irrelevante”
    POR Camila Yahn

    Agradecimentos: Camila Yahn e Pense Moda

    Cecilia Gratian Dean nasceu no dia 10 de janeiro de 1969, no estado da Califórnia, EUA, e gosta de incluir seu signo zodiacal em todas as conversas: “Sou capricorniana, obcecada por organização, odeio viajar, adoro minha rotina, tenho a agenda mais complexa e estruturada que você pode imaginar”.

    Aos 41 anos de idade, Dean é cofundadora da revista “Visionaire”, publicação que foi criada em 1991 “para publicar materiais de fotógrafos que eram rejeitados por outras revistas mais comerciais”. Mas, segundo a própria, “isso foi há muito tempo, hoje nossa missão é outra”.

    A partir do dia 11 de maio, São Paulo recebe, no Instituto Tomie Ohtake, a exposição “Visionaire – Para Todos os Sentidos”, mostra com curadoria de Albretch Bangert, que considera a publicação “um verdadeiro objeto de arte”, contrariando Dean, que contou ao FFW: “A revista não é uma obra de arte, mas sim uma plataforma onde artistas podem se expressar. Eu acho que a ‘Visionaire’ é legal. Só isso”.

    cecilia-dean-visionaire-office-NYCCecilia Dean no escritório da “Visionaire” em Nova York: “Minha missão hoje é desafiar os artistas” ©Divulgação

    Fale sobre o conceito da “Visionaire”.
    A ideia original era publicar materiais inusitados. Na época os fotógrafos clicavam para as revistas mais comerciais, mas tinham trabalhos pessoais incríveis: paisagens, retratos, nus artísticos, etc. Mas ninguém queria publicar esse tipo de coisa. Então criamos uma plataforma para esse tipo de conteúdo.

    Porque a ênfase na palavra “original”? Alguma coisa mudou?
    A revista nasceu em 1991, muito tempo se passou. Hoje é tudo diferente, existem várias publicações independentes no mercado, os fotógrafos conseguem expor seus trabalhos em galerias, conseguem lançar livros de fotografias, nada disso era possível no começo dos anos 90. Tudo mudou.

    Para melhor ou pior?
    Acho que sempre pra melhor. Eu acho que uma mudança é sempre bem vinda, às vezes pode até parecer ruim, mas no fim é possível extrair o lado bom de qualquer transformação. Quanto mais espaço criativo temos, melhor. Hoje, o conceito original da “Visionaire” é irrelevante.

    Como assim?
    Não foi uma coisa consciente, evoluímos com o tempo. Nossa razão de ser evoluiu. Hoje, mais do que apenas oferecer um espaço para os artistas mostrarem seus trabalhos, nossa missão é desafiá-los.

    Dê um exemplo.
    Por exemplo a edição #42, intitulada “Scent” [cheiro, em português]. O desafio que demos aos artistas foi o de criarem conceitos sobre o cheiro de suas imagens, o que é uma coisa super esquisita, além de ser um desafio que nenhuma outra revista do mercado poderia oferecer. O mesmo tipo de desafio aconteceu nas edições #47, intitulada “Taste” [sabor, em português] – qual o gosto da sua imagem? –, e “Sound” [som, em português], em que os artistas tinham que gravar um som de um minuto de duração que representasse a sua obra. Essa é a nossa essência hoje: desafiar a criatividade dos colaboradores.

    Por falar em colaboradores, o time da “Visionaire” é sempre do alto escalão. Como é gerenciar os superegos dessas pessoas?
    Preciso ter muita paciência, e muita calma.

    Eles são como multinacionais, fazem rios de dinheiro, não têm tempo pra nada…
    Então, meu trabalho é inventar um tema tão desafiador e instigante que ninguém vai conseguir dizer não ao nosso convite. É extremamente complicado ter alguém como a Yoko Ono colaborando com a sua revista – ela é a pessoa mais ocupada do mundo, faz zilhões de coisas que dão muito mais dinheiro, então porque ela perderia seu precioso tempo fazendo algo, de graça, para a “Visionaire”? Por que as nossas ideias são tão insanas que nenhum artista consegue recusar!

    Fazer uma edição nessas condições não deve ser muito simples.
    Nao é mesmo. Uma única edição da “Visionaire” pode levar até oito meses para ficar pronta.

    Uau! Oito meses?
    Sim. E publicamos até 3 edições por ano.

    E cada revista tem que ser um desafio único.
    Viu a encrenca que é minha vida? (risos) Pessoalmente não gosto de mudanças, sou capricorniana, gosto de rotina, adoro ter horário para chegar e sair do trabalho, gosto de ter uma mesa com tudo no lugar, odeio viajar, minha agenda tem que estar sempre muito organizada. Mas ao mesmo tempo, do ponto de vista da criação, a mudança é essencial: na “Visionaire” a cada edição o layout muda, a embalagem muda, o modo de fazer muda.

    Muda de acordo com a criatividade ou de acordo com o patrocinador?
    Cada projeto da “Visionaire” tem apoio de um patrocinador. Já fizemos parcerias incríveis com Calvin Klein Collection, Louis Vuitton, Comme des Garçons, Smart. Mas para um patrocinador firmar parceria com a gente é preciso muito estudo, tem que ter uma relação direta e saudável com a nossa produção criativa. Pra gente, a definição de publicação vai além da tinta no papel. Tivemos uma edição publicada inteiramente no formato de toy arts (“Visionaire” #50, “Artist Toys”) em que usamos um objeto tridimensional no lugar do papel. Para nós, isso é um tipo de publicação editorial. A edição “2010”, por exemplo, vem no formato de uma tela digital que contém 365 trabalhos de arte, um para cada dia do ano. Apesar de ser um aparelho eletrônico, ele roda um conteúdo, então é uma publicação.

    visionaire-57-digitalEdição “2010” da revista: parceria com a Smart rendeu uma publicação feita em formato de mídia digital, com 365 imagens que giram uma a cada dia do ano ©Divulgação

    Então o futuro da publicação editorial está nas novas tecnologias?
    O futuro está em explorar as novas possibilidades de publicação, e isso muitas vezes vai ao encontro das novas tecnologias. A “Visionaire” é diferente de todas as outras revistas porque é uma publicação que você pode adquirir agora, guardar, e daqui cinco anos vai ter vontade de abrir de novo e ainda vai poder apreciar o conteúdo.

    Isso é fato: tem muita gente que coleciona a revista como se fosse uma obra de arte.
    A revista não é uma obra de arte, mas sim uma plataforma onde artistas podem se expressar. Eu acho que a ‘Visionaire’ é legal. Só isso.

    Mas se eu colocasse essa tela digital (edição “2010”) na sala da minha casa, as pessoas achariam que é uma obra de arte.
    Fico lisonjeada, mas continuo afirmando que é apenas uma publicação editorial.

    Uma publicação muito bem sucedida, que até gerou novas revistas, caso da “V” e da “VMan”.
    As duas revistas são como filhas da “Visionaire”. Em 2001, quando a revista completou 10 anos de existência, percebi que tínhamos um veículo livre para se expressar artisticamente, mas ao mesmo tempo recebíamos pautas incríveis e que não cabiam dentro das edições temáticas, então foi natural criarmos extensões que fossem mais flexíveis, mais simples no formato, de distribuição mais fácil e rápida assimilação do público. Além disso, a “V” e a “VMan” são ótimos canais para anunciantes.

    Então o dinheiro vem delas?
    Na “Visionaire” só trabalhamos com grandes patrocinadores, mas não no formato tradicional de anúncio. Então, quantitativamente, a “V” e a “VMan” arrecadam muito mais. A coisa começou unissex, mas como o mundo da moda é naturalmente mais feminino, resolvemos fundar a revista masculina, que só sai 4 vezes ao ano, sendo ainda mais simples e mais fácil de distribuir.

    (QUASE) TUDO SOBRE CECILIA DEAN

    Nome
    Cecilia Gratian Dean

    Nascimento
    Califórnia, 10 de janeiro de 1969

    Animais
    Dois gatos e um cachorro. A gatinha mais nova se chama Chechi, o gato adulto é o Pookie. E o cachorro atende pelo nome de Mott.

    Flor
    Crisântemo.

    Comida
    Pato, foie gras, picadinho. Amo carne, mas é impossível comer carne boa nos EUA. Então quando viajo a países como o Brasil, como carne como se não houvesse o amanhã.

    Bebida
    Caipirinha sem açúcar.

    Por que sem açúcar?
    Não gosto de coquetéis doces, prefiro as bebidas azedas ou amargas, do tipo que te fazem despertar a cada gole. Adoro Dirty Martini e Mojito.

    Perfume
    Não uso. Na verdade, às vezes eu uso, a gente fez uma edição há alguns anos chamada “Scent” e uma das fragrâncias era chamada “medo”. É pura essência de dormideira [uma flor, nome científico: Mimosa pudica] e tem um cheiro estranho. Gosto de exalar cheiro de medo.

    Medo
    Sempre tive medo de passar fome e não ter onde morar. Ironicamente, meu atual namorado é dono de restaurantes e já teve uma construtora, então acho que consegui superar meus medos. Nunca vou passar fome saindo com um dono de restaurantes, e ele também sabe como construir casas.

    Maior desafio
    Tenho o desafio constante de criar ideias geniais, e quanto mais ideias eu tenho, mais difícil se torna ter novas ideias.

    Maior recompensa
    Em 2011 vamos celebrar 20 anos, para mim é sensacional, quando começamos eu não tinha ideia que chegaríamos tão longe. Essa é a maior recompensa.

    Sonhos
    Eu gostaria de ser multimilionária, mas nao sei se isso vai acontecer.

    O que você faria com tanto dinheiro?
    Contrataria mais equipe, faria mais caridade – eu faço, mas é dificil balancear com o trabalho, eu tenho uma equipe que preciso pagar. Se eu tivesse mais dinheiro, teria mais equipe e mais tempo para caridade.

    Dentro do seu armário
    No hotel ou na minha casa?

    No hotel
    Pouca coisa.

    Tipo?
    Uma blusa da Ohne Titel, um par de calças Balenciaga que tenho há mais de 10 anos, saltos da Calvin Klein, camisa e saia Marc Jacobs.

    E em casa?
    Tenho muitas camisas com babados da Givenchy – amo babados. Tenho muitas calças pretas e muitos saltos altos. Eu amo saltos altos. Meu designer de sapatos favorito é um jovem inglês chamado Nicholas Kirkwood. Também amo os tricôs da Rodarte. Tenho muita coisa do Margiela. E uso Helmut Lang todos os dias.

    As 3 últimas compras.
    1) Camisa branca com babados Givenchy
    2) Um retrato da fotógrafa Nan Goldin
    3) Uma escultura de parede do artista Cat Chow

    Seu lema
    Meu lema é: porque escolher se você pode fazer tudo. As pessoas sempre dizem que você tem que fazer isso ou aquilo, escolher entre A, B ou C. Eu acho que a gente tem que fazer tudo ao mesmo tempo. Obviamente você precisa editar, esse é meu outro lema: editar é o segredo da vida. Então saiba editar, mas faça tudo o que tiver vontade.

    Futuro
    Não tenho ideia de como vai ser o meu futuro. Mas sei que ele só depende de mim.

    + Site oficial com todas as edições da “Visionaire”: visionaireworld.com

    Exposição: “Visionaire – Para Todos os Sentidos
    QUANDO 11 de maio de 2010, às 20h
    Até 13 de junho de 2010, de terça a domingo das 11h às 20h
    Entrada franca

    Instituto Tomie Ohtake
    ONDE Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés) – Pinheiros / SP
    CONTATO (11) 2245.1900

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