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    Opinião
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    POR Camila Yahn

    Vincent Bevins, , correspondente do “Financial Times“, na sala de imprensa do Fashion Rio ©Ricardo Toscani

    O Brasil, assim como a moda brasileira, está atravessando uma fase de transformações. A imprensa internacional que está presente em eventos como o SPFW e Fashion Rio está tentando acompanhar todas essas mudanças para descobrir os caminhos da moda brasileira, agora que os olhos do mundo estão voltados para o país. Entre os jornalistas convidados nesta temporada, está Vincent Bevins, correspondente do “Financial Times” em São Paulo. Vincent é natural de Los Angeles e já morou em vários países como a Alemanha, Venezuela e Reino Unido. Na época que viveu em Londres, onde trabalhou na sede do “Financial Times”, apareceu uma vaga para ser correspondente no Brasil e ele aceitou. Há dois anos no país e já com um português perfeito, o jornalista mostrou ao FFW um pouco da visão econômica da moda.

    Quais foram as principais mudanças que você viu nestes dois anos que vive aqui?

    O Brasil é um país onde é fácil ser estrangeiro. Quando cheguei, eu olhava para o país com um ângulo estrangeiro, mas agora já acho tudo mais normal. Quanto ao país, eu cheguei no momento em que o Brasil está entrando na cena internacional. Inclusive, muitas pessoas estão questionando se vai dar certo. Eu acho que vai. As pessoas estão com um pouco menos de interesse do que há dois anos e estão questionando se o Brasil pode enfrentar os problemas que existem aqui.

    E na moda?

    Quanto à moda, especificamente, tem problemas econômicos também. No momento exato em que todo o mundo estava olhando para a moda brasileira, tudo no Brasil ficou muito mais caro, então as empresas têm dificuldade em vender fora. Acho que a qualidade vem melhorando, isso é óbvio. Da imprensa internacional, todo mundo fica impressionado. Mas este ano foi atípico – tem muitos jornalistas que chegam ao Rio e não sabem que existe uma semana de moda em São Paulo que é mais importante. Ter seis semanas de moda em um ano é muito. Na França teve duas, por que o Brasil precisa de seis? As pessoas que estão aqui agora nem vão ouvir falar de Pedro Lourenço, por exemplo, ou outras marcas que têm mais chance de aparecer no cenário mundial. Mas eu entendo o que estão tentando fazer. Eu acho que tem duas coisas bem distintas: vender para o povo brasileiro sem perder espaço frente às marcas internacionais que estão chegando aqui, e tentar aparecer no mundo. E às vezes essas duas coisas são difíceis de conciliar.

    Muitas vezes a imprensa internacional exige da moda brasileira tropicalidade em demasia. Acha que a moda brasileira sofre esse preconceito?

    É um balanço difícil. Tem preconceito quando as pessoas acham que moda brasileira é macaco e fruta, mas é completamente legítimo as pessoas exigirem no Brasil uma coisa brasileira e não uma cópia do que já existe fora. Por isso é que eu acho Neon uma das marcas mais interessantes do Brasil. O que eles fazem não é responder a um aviso nem criar uma imagem preconceituosa do Brasil. Eles encontram tendências e fazem uma coisa realmente legal. Por isso eu acho legítimo as pessoas pedirem uma coisa mais brasileira, mas sem estereótipos e sim, na sua totalidade o que o estilista achar que funciona melhor para a marca. Depois, claro, tem a venda para o povo brasileiro. As pessoas aqui querem comprar uma coisa que não seja diferente do que se vende lá fora. Mas quem vem da França para o Brasil vai querer ver algo que não se vende na França.

    Você sempre cobriu eventos de moda?

    Não. Depois de chegar ao Brasil é que comecei a cobrir vários, em países emergentes. Eu estava na semana de alta-costura para noivas na Índia – India Bridal Fashion Week -, e na América Latina fui para o Peru.

    Onde ficam os eventos no Brasil em comparação com os do resto do mundo?

    O Brasil fica entre os dois – tem quase um nível de qualidade europeu, mas ainda não chega totalmente. Tem profissionalismo e é muito bom. No Peru, por exemplo, é um projeto de quem está tentando criar algo. Na Índia é complemente diferente. O que se vende lá é só vestidos para casamentos. É uma coisa que no mundo está mudando – os países emergentes têm muito poder econômico, mas não têm nenhuma marca poderosa. A China, por exemplo, você não conhece nada de marcas lá. O Brasil tem a Havaianas. É um projeto super importante para os países emergentes, o de construir marcas próprias.

    Em termos econômicos, a China está mudando o mercado, mas não tem uma produção nacional. O que esses países emergentes estão dando para o mundo da moda?

    O que a China está dando para o mundo da moda é que está comprando todas as marcas de luxo da Europa. Infelizmente, o que o Brasil faz mais do que vender é comprar, em Miami e Nova York, por exemplo. 

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