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    Entrevista
    Entrevista
    POR Camila Yahn

    Vanessa Beecroft em uma de suas instalações ©Reprodução

    Antes de se sentar hoje às 21h para um debate com Graziela Peres e Karlla Girotto durante a 6ª edição do Pense Moda, a italiana Vanessa Beecroft conversou com o FFW e explicou o seu trabalho, as suas inspirações e as mensagens que quer transmitir com as suas performances de larga escala que confrontam o espectador, muitas vezes com mulheres nuas.

    Confira abaixo a entrevista completa e não perca o debate, que será transmitido ao vivo pelo blog Estilo Renner e documentado pelo FFW.

    O que você procura quando faz o casting para as suas performances?

    A primeira vez que fiz casting foi na faculdade e comecei a olhar e foi espontâneo. Na escola eu olhava as garotas e por alguma razão elas me lembravam de mim mesma. Elas pareciam pouco à vontade e eram um pouco estranhas, pareciam saídas de quadros; eram altas ou baixas ou magras e eu sentia muita empatia em relação a elas. Então quando fui convidada pelo meu professor para fazer a minha primeira exposição, a minha performance apareceu primeiro. Elas eram parecidas, mas diferentes, e parecia que vinham de outro mundo. Depois disto, quando pedia meninas aos museus, pedia que elas tivessem boas proporções, que não fossem obesas ou muito magras, porque isso esbarrava em questões sociais que eu não queria endereçar. Eu entregava um retrato que depois me dei conta que era muito parecido com a minha irmã. Às vezes eu entregava imagens da Vanessa Redgrave ou da Twiggy, porque as suas características eram as que eu sentia falta em mim por ter sido criada na Itália, longe da minha família. Cada projeto tinha garotas especificas ou tópicos. Em Viena, eu pedia meninas que se parecessem com o Helmut Lang. Em Gênova, onde nasci, pedia mulheres africanas. Mudava muito, mas todas elas tinham alguma coisa que me fazia lembrar de mim mesma, mas levada ao extremo. Muitas vezes os museus contratavam modelos e para mim isso não funcionava. Eu não estou interessada em uma mulher tão magra porque eu não quero nada que seja somente visual. Eu gosto da presença física e às vezes isso vem de mulheres reais que eu tenho que escolher eu mesma.

    E em termos de personalidade, o que busca?

    Eu gosto de melancolia e eu pedia às meninas para não falarem. Porque alegria não se encaixaria na imagem. Porém, em mulheres paradas durante horas, a melancolia chega mesmo na alegria. Depois de horas em pé, em silêncio, todas juntas e muitas vezes nuas, começam a surgir pensamentos que são aqueles aos quais eu quero tratar. Mas basicamente não pergunto personalidade antes de recrutar as meninas. Olho para elas e intuitivamente sei.

    Quais as suas inspirações?

    Em muitas coisas, mas principalmente na minha vida pessoal. E em arte, como pinturas, fotografias, livros e revistas, filmes. Nas primeiras performances, me inspirei muito em filmes da nouvelle vague e no classicismo. E dependendo dos projetos, e de cada vez que visito um país, tento entender a situação social e relacionar com a performance. No Brasil deram-me umas meninas lindas, loiras, mas eu não queria usar só isso, para mim era muito ocidental. Quando fui ao Parque Ibirapuera, vi uma mistura de várias raças e sabia que era isso que eu queria, meninas mais africanas. Porque eu queria que estivesse presente na performance três tipos de cores: branco, preto azeitona e marrom. E como me falaram que essas mulheres não faziam esse tipo de coisas, eu trouxe maquiagem dos Estados Unidos e pintei todo o mundo. Foi engraçado porque o patrocinador ficou muito chateado. E o curador comparou-a ao livro “Heart of Darkness” do Joseph Conrad.

    Qual é a sua opinião sobre o Brasil?

    Eu fico muito feliz quando venho ao hemisfério sul porque as pessoas são mais parecidas com os italianos. E aqui eu gosto muito da diversidade. Ontem eu estava no Parque e as pessoas estavam correndo e eu notei que elas cobrem todas as raças do mundo, uma mistura com um resultado muito bonito. Eu não sei bem, mas parece um país muito extrovertido e equilibrado e confortável.

    Qual é a sua relação com o corpo e como vê a importância da linguagem corporal?

    A minha relação com o corpo começou quando eu pintava modelos na escola. E essa presença para mim era muito forte, no meio da sala, mas quando a desenhávamos ela virava uma coisa plana e sem a carga de todos os componentes que eu sentia por meio da presença física. E foi assim que decidi usar o corpo humano vivo no espaço, perdendo a interpretação do desenho. Então eu perdi alguma coisa, que é algo que eu me arrependo hoje. Porque não fui até o fim com a minha pesquisa em desenho, acabei só colocando corpos em frente às pessoas. O objetivo era comunicar através da presença física, aspectos psicológicos. O corpo é uma imposição à plateia, que é bonito de alguma forma, mas que carrega muitos sentimentos: vergonha, desconforto e nudez. O corpo está ali, mas não é de uma forma alegre. É uma coisa pesada, mesmo que seja o corpo de uma modelo linda em uma pose graciosa, tem um peso.

    É por isso que você recorre à nudez frequentemente?

    Sim, por isso e também para fazer referência à arte clássica, para que a nudez não seja gratuita e carregue uma tradição.

    Fotografia de parte da performance de Beecroft para a Louis Vuitton ©Reprodução

    As suas performances já serviram de inspiração para muitos editoriais. Qual é para você a relação entre o seu trabalho e moda? Ela existe?

    Antes de mais nada, moda é uma produção de roupas que precisam ser usadas e que seguem algumas regras, atendem um pedido do mercado. No meu trabalho, eu não tenho a pressão do mercado, poderia estar pintando maçãs, por exemplo. É substancialmente diferente porque eu tenho quase um antagonismo em relação à moda. O meu trabalho define alguns pontos que na moda às vezes nem são tratados como a mulher, o corpo, a melancolia, o estático por oposição ao movimento, a beleza que não dura sempre… Então eu tento criar um comentário, que não é necessariamente o que acontece na moda.

    Você estudou arquitetura; como ela está presente no seu trabalho?

    É muito importante quando eu insiro as meninas em um espaço, e se ele for arquitetônico, melhor. Quando eu estudava na escola, artistas como o Rafaello colocavam a Madonna no centro de uma estrutura e para mim isso era um aspecto muito importante. O ambiente onde as meninas são apresentadas muda muito a apresentação. Quando é em um edifício, por exemplo, é diferente de elas estarem na selva, ao natural. Elas estão em um ambiente estruturado, de arquitetura. Ela pode estar nua, não ter nenhum status, mas ela está inserida em um ambiente. Para mim é importante a escala e a proporção, a figura dentro do espaço, então é muito importante a locação. A performance não é centrada na ação, e sim na composição do espaço e nas pessoas dentro dele. No Brasil foi ótimo por causa da composição do espaço. Às vezes é ótimo, à vezes nem tanto, mas sempre uso a composição do espaço como background.

    Que mensagem você quer transmitir com o seu trabalho?

    Eu não sei o que eu quero que as pessoas pensem, mas provavelmente eu quero que na próxima vez que as pessoas vejam uma mulher nua não pensem nada além do que realmente é. Quase como se eu quisesse limpar a imagem da nudez feminina. Não porque o meu trabalho seja limpo, mas sim porque ao vê-lo você pode pensar sobre coisas que você não quer ser. Se as mulheres estão lá, desconfortáveis com os saltos, talvez você veja isso e pense que não quer sentir esse desconforto. E esse não era o meu objetivo quando me tornei artista. Ele surgiu depois, mas como uma prioridade. Então mesmo que a minha arte fosse geométrica ou colorida, o que eu teria que deixar transparecer é esse desconforto que sinto.

    + “Ou você se entrega, ou faz outra coisa”, e mais da sabatina de Regina Guerreiro no 1º dia de Pense Moda 2012

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