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    Conheça a artista Molly Soda, que usa o corpo e as inseguranças como forma de expressão
    Conheça a artista Molly Soda, que usa o corpo e as inseguranças como forma de expressão
    POR Camila Yahn
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    Molly Soda, jovem artista e exibicionista digital ©Reprodução

    Rainha do Tumblr, artista digital, criativa em GIFs, exibicionista virtual… Aos 26 anos, Molly Soda tem conquistado cada vez mais espaço quando o assunto é plataforma digital. Ela começou – e estourou – no Tumblr e hoje é uma artista digital ativa e que usa seus canais para mostrar seus projetos artísticos, que muitas vezes traduzem seus sentimentos e pensamentos e acabam ecoando em toda uma geração, especialmente de meninas.

    Molly fala das inseguranças com seu corpo e as transforma em ferramentas de empoderamento – sua e de suas seguidoras. A tristeza inicial por não ter um namorado vira assunto pra projetos que, no final, a fazem crer que, de fato, não precisa de ninguém. “A maior parte do que faço é sobre e para garotas em seus quartos. Do meu quarto para o seu. Mostro o que fazemos quando estamos sozinhas. Meu trabalho é tornar isso público. Acho que sou uma exibicionista online”, disse à revista “Paper”. Em seu Tumblr, ela posta gifs e vídeos dela cantando e é por onde ainda mais se comunica com os seguidores. Um dia, com pouco dinheiro, pediu ajuda financeira em troca de GIFs personalizados e também já trabalhou em troca de pizza.

    É como se fosse uma brincadeira que deu certo. O seu sucesso se deve a essa honestidade e transparência sem filtros. Um de seus projetos mais polêmicos é “Should I send this?”, um fanzine digital publicado no NewHive, plataforma de publicação multimídia. Lá ela reúne sexts não enviados e fotos suas nua que, até então, estavam encalhadas no seu celular. “Os textos e as imagens começaram a se amontoar, não só no telefone, como também na minha mente. Eu precisava colocar isso pra fora como uma maneira de andar pra frente”, disse ao site Dazed Digital.

    Nas fotos Molly se expõe bastante. Em uma das imagens, ela mostra que sua barriga e virilha não estão depiladas, causando repulsa em muitas garotas e adoração por parte de outras. “Não estou mais preocupada com o que os homens pensam sobre meu corpo. Estou preocupada com o que eu sinto em relação ao meu corpo. Muitas meninas me escrevem falando que elas se sentem menos constrangidas em relação ao corpo delas e é com isso que eu me importo. Foram as respostas de outras mulheres que realmente me encorajaram.”

    Esse grupo de fotos foi suficiente para causar barulho na comunidade jovem online. E olha que ele representa menos de 10% das selfies de Molly. “O último sext que enviei foi em 2012. Já as fotos peladas eu tiro quase sempre, muitas vezes quando estou triste ou quando genuinamente me sinto bonita. Mas não mando pra ninguém, então elas ficam no meu celular até que eu fico sem espaço e tenho que apagar.”

    Molly é conhecida por compartilhar exageradamente, mas com esse projeto alcançou um novo nível de “abertura online”. Ela deu várias entrevistas em que fala abertamente sobre sexo (e a falta de) e sobre seu corpo, solidão e medo. Se a honestidade descarada pode incomodar, por outro lado, encontra uma força enorme nas milhares de jovens que se veem nela. “Decidi publicar o fanzine porque acho que as pessoas poderiam se conectar com os pensamentos expressados lá. Todos nós temos pensamentos e imagens não enviados por medo do que o outro vai achar. O medo faz com que a gente não compartilhe.”

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    Foto com o urso no projeto “Me And My Bear” ©Reprodução

    Seu trabalho está baseado nas selfies, mas como expressão artística e feminista. Para ela, qualquer mulher que se sinta “ela mesma” e resista à pressão já consiste num ato feminista. “A internet tornou a comunicação entre as mulheres mais fácil. Gosto muito de ver as mulheres se ajudando ao redor do mundo. Pra mim isso é ativismo”, disse à “Paper”.

    Um de seus projetos mais recentes fala sobre isso: a pressão da sociedade sobre a mulher. Em “Me And My Bear”, ela explora seu relacionamento com um urso de pelúcia, que tomou o lugar do que seria um parceiro ideal. “Como feministas, somos levadas a acreditar que devemos ser independentes e não querer o amor romântico. E eu queria justamente falar sobre isso, sobre o desejo do amor romântico em vez de me sentir envergonhada por querer isso.”

    No final, o que ela quer mostrar é que é ok ser ou estar sozinha, sem esconder os sentimentos que vêm à tona. “Até que ponto nosso desejo por amor nos leva a conexões vazias?”, ela pergunta. “Sempre me senti sozinha, e tinha vergonha disso. Hoje sei que não estou interessada em me relacionar com alguém só porque sou obrigada a ter isso para mostrar como minha vida é feliz. Não preciso de um homem.” A ideia do urso aconteceu logo após um garoto que ela gostava a deixar triste. “Então eu disse foda-se e encomendei um urso gigante.”

    Molly é tão adorada porque tem coragem de expor os sentimentos mais escondidos de meninas da sua idade (e de todas as idades, na verdade). Solidão, autoestima baixa, tristeza, sensação de inadequação, insegurança. Essas são suas ferramentas de trabalho. No final, como arte, de que forma ela pode ser julgada? Seus GIFs são os mais incríveis que já vimos? Certamente não. Mas seu trabalho é válido e faz muito sentido quando observado como um todo, um grande quebra-cabeça de emoções e sensações com as quais os jovens se conectam.

    Conexão, aliás, é a palavra chave para definir o seu trabalho. No seu caso, conexão a milhares de pessoas que ela não conhece e com quem interage virtualmente de seu quarto. “Acho reconfortante ver que podemos nos sentir conectados a pessoas totalmente estranhas. O que faço, no final, não é sobre mim, é sobre qualquer pessoa que já tentou alcançar alguma intimidade através de uma mensagem de texto, uma foto ou qualquer outra experiência vulnerável usando a comunicação digital”, diz.

    Em seu mais recente projeto, Soda reuniu um grupo de jovens artistas que trabalharam em cima de imagens postadas no Instagram – aquelas que de uma certa forma, muitas pessoas conseguem se comunicar e se ver naquela situação. Acontece muito nos posts que vemos relacionados à segunda-feira, por exemplo, sabe quais? A mostra coletiva chama-se “Same” e tem a participação de mais cinco artistas jovens (Brie Moreno, Laurence Philomene, Sarah Cohen e Nooran Matties) que abordam essa questão de intimidade e conexão virtual.

    O valor de Molly está, não em sua arte propriamente dita, mas em sua coragem e habilidade de externar sem pudor algumas das angústias dos adolescentes e jovens – e por que não – de muitos adultos na era do individualismo e do anonimato virtual.

    “Same” está sendo exibida até 23 de agosto na galeria Stream, em Nova York.

    @bloatedandalone4ever1993

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