Até onde o trabalho de um cineasta pode inspirar? O que o faz ressoar além das telas?
Criar um universo estético que se reafirma filme após filme sem ficar repetitivo é uma tarefa árdua e não é qualquer diretor (por mais talentoso) que alcança isso.
É exatamente o que Wes Anderson vem fazendo: criando um mundo particular com cores, personagens, músicas e situações que são automaticamente reconhecidas como “Wes Anderson”. “Eu escrevo uma história e ela é totalmente diferente da última história, mas a caligrafia é a mesma e eu não posso escapar disso. É a minha personalidade e não quero me forçar a adotar a caligrafia de outra pessoa”, explica o diretor.
Sua obra já inspirou livros, paleta de cores, restaurante e videogame, e agora é a base da exposição “Bad Dads VI”, que chega a Nova York em formato pop-up, com duração de apenas três dias.
A mostra reúne 70 artistas cujo trabalho faz alguma referência ao cinema cult de Anderson, com obras que vão de aquarelas a esculturas de madeira, pinturas bonitas, outras descartáveis. Na página do evento no Facebook, podemos ler: “Vamos mostrar uma turma com diferentes talentos e estilos, mas todos abordam seus trabalhos da mesma forma meticulosa que Wes. Olhamos para o mundo estético que Anderson estabeleceu e cada artista ficou livre para escolher seu filme ou personagem, resultando em uma grande variedade de portraits, ambientes hiperdetalhados, temas e motivos icônicos, todos os elementos que vemos em seus filmes”.
Muitas das imagens já circulam por sites e Instagrams, como o da artista Christine Aria, pois essa mostra acontece há seis anos em São Francisco, uma iniciativa da Spoke Art, galeria que trabalha muito com novos artistas de ilustração e pintura. A cada edição, novos trabalhos são produzidos, novos artistas integrados. Espere ver pinturas dos personagens de Bill Murray, Jason Schwartzman, Owen Wilson (três colaboradores fixos de Anderson), Gwyneth Paltrow e a dupla Jared Gilman e Kara Hayward, de “Moonrise Kingdom”.
Mas o buzz em torno de Nova York também tem sua conexão com o diretor americano. É onde foi filmado um de seus filmes mais conhecidos, “The Royal Tenenbaums” e também é onde Wes vive.
Fazer uma exposição sobre um diretor cultuado, reunindo 70 artistas em apenas um final de semana, fala bastante também sobre a época atual. Já há mais de 40 mil pessoas confirmadas para visitar a Joseph Gross Gallery, no Chelsea, a mesma que atualmente expõe a mostra de Alison Mosshart. Imagine as longas e inevitáveis filas… Mas nessa cultura do imediato, com os artistas postando as obras e seus processos nas redes sociais, quanto tempo você leva para gostar ou não de uma imagem? Ainda mais tratando-se de um repertório que já está no nosso imaginário (dos que assistem aos filmes de Anderson), e que é de fácil compreensão. Se o ritmo dentro da exposição for tão rápido quanto damos likes no Facebook ou no Instagram, então a fila deve andar rápido.
“Bad Dads VI” @ Nova York
De 7 a 9 de agosto
548 W 28th St
+ Joseph Gross Gallery