Há um inimigo mais perigoso do que o produtor de casting de desfiles para a autoestima das mulheres normais (ou seja: aquelas que não trabalham com moda). Nao é o espelho, nem o McDonald’s, mas o Photoshop.
O assunto das modelos magras demais nas passarelas dá pano para muitas mangas, porém nesta pensata de hoje eu gostaria de me concentrar no trabalho de editores de arte, de fotografia e tratadores de imagem de todo o mundo, que contribuem e muito para o baixo astral geral.
Ao ver esta ou aquela celebridade ou modelo numa revista, o primeiro feeling é o da autodepreciação. Nossa, eu nunca vou conseguir ter:
a) esta pele
b) este corpo
c) estas roupas
Estou mentindo?
Que atire a primeira pedra a mulher, e agora incluo as que trabalham com moda, que veem uma imagem de revista e pensam (antes de se sentirem péssimas) que aquela imagem passou por pós-produçao?
A atriz Demi Moore na capa da “W” de dezembro de 2009: rumores falam sobre uma dublê de corpo (e muito Photoshop) nas fotos © Divulgação
Quem é da indústria sabe que temos que “consertar” probleminhas de pele, dentes, cabelo, pernas e por aí vai quando nos chegam fotos que, se publicadas, nao despertariam desejo, cobiça e muito menos luxo e luxúria.
O limite deveria ser o do bom senso, e não o rol de Photoshop disasters de mulheres sem umbigo ou sem axilas que a Internet coleciona. Sem falar em séries de “antes e depois” que pipocam por aí (Madonna e Jesus na “W”?). E pra não ficar apenas no universo feminino, quem se lembra do cabelo de Jude Law retocado naquela publicidade de perfume?
Madonna em ensaio da “W” de março de 2009: a revista é uma das mais citadas quando o assunto é o uso excessivo do Photoshop © Divulgação
É muito comum também criarmos o que chamamos de Frankenstein, ou seja, colocar a cabeça de uma foto com o corpo da outra, quando não conseguimos uma foto perfeita. Se somos perfeitos num todo? Longe disso.
Mas até onde tratar? Onde não tratar? Posso dar dois exemplos, pessoais, para não ficarmos só na hipocrisia que nunca sai de moda: certa vez, quando promovi cirurgia estética nos dentes de uma atriz, e quando convidei uma modelo para fotografar sem maquiagem. A primeira não conto quem é, mas conto a que topou, no segundo exemplo: Jeísa Chiminazzo.
Este assunto está apenas começando, e ele não se resume às passarelas de desfiles. Que, por conta do caráter midiático e da relevância cultural e social que atingiram, são objeto de análise de todos. Que bom.
Erika Palomino