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    Marcelo Sebá: Lady Gaga é biscoito fino para as massas
    Marcelo Sebá: Lady Gaga é biscoito fino para as massas
    POR Camila Yahn

    via @MarceloSeba

    2011/10/2308_sebagaga

    As fotos do acervo pessoal de Marcelo Sebá: acima a Polaroid autografada em seu nome pela cantora e retratos de Marcelo ao lado de Lady Gaga, Nicola Formichetti e Terry Richardson ©Marcelo Sebá | Colagem: Romeuuu

    A primeira vez que vi a Lady Gaga foi totalmente por acaso, browseando no You Tube dei de cara com um vídeo de um show moderninho, num clube de Nova York, onde uma loirinha levava a (pequena) plateia ao delírio com uma música chamada “Paparazzi”. Vi algumas vezes e depois esqueci. Comecei então a ouvir falar da tal da Lady Gaga, mas não dei muita atenção, até o dia em que a Flávia Lafer postou o clipe de Paparazzi no seu Facebook e eu finalmente juntei os pontos: a loirinha era a tal da Lady Gaga, que a essa altura já tinha crescido e aparecido – bastante, inclusive. Passei – como metade do planeta – a me interessar e acompanhar seus passos e me divertir com as músicas novas, com os clipes novos, com as loucuras fashion, com os factóides e com todo o universo que foi se construindo em torno dela.

    Em janeiro, vim a Nova York fotografar a campanha de inverno do Sergio K e comemorar o meu aniversário. Vi que ela se apresentaria no Radio City Music Hall e me dei um super ingresso de US$ 600 na décima fila central para assistir à estreia. Choque, babado e confusão. O show era incrível, uma movimento de carreira preciso. Fazer o show no Radio City não só impunha prestígio como possibilitava explorar efeitos cênicos que um mega show não permitiria. O roteiro era enxuto e o cenário não tinha muito mais do que três paredes de LEDs que fechavam a cena atrás e nas laterais, escondendo os músicos na maior parte do show e colocando ela e os bailarinos em primeiro plano. Um piano de cauda impecavelmente cenografado entra em determinado momento para que ela cante “Speechless” e uma versão romântica de “Poker Face”, abrindo caminho para que ela mostrasse que não estava ali a passeio. É música, toca de verdade, compõe de verdade e canta de verdade. Profundamente emocionada por estar pisando pela primeira vez naquele palco, contava histórias engraçadas sobre a nova condição de celebridade e da felicidade que sentiu quando percebeu que havia criado uma conexão com seus “little monsters”. Nessa época eu disse ao Terry Richardson: “Você TEM que fotografar essa garota! Ouça a música dela e fotografe-a, pois ela é o que há de mais bacana no POP hoje”.

    Voltei pro Brasil mais fã do que nunca e com a letra de “Alejandro” na ponta da língua. A coisa virou piada, muitos amigos passaram a me chamar de Alejandro. O mais divertido hoje é ver a quantidade de gente que tirou sarro da minha cara e hoje canta a música de ponta a ponta. Sim, porque tirando o Jackson Araújo, que sempre tocou Alejandro, e o meu companheiro de pista Serginho Amaral, eu perdi a conta de quanta gente xoxou essa música.

    Tornando menos longo um texto enorme, vamos pular para o presente! Alguns meses, muitos hits e dois clipes depois, estou me preparando para ir para um evento quando recebo um telefonema do Seth, manager do Terry. Atendo e ao invés de ouvir a sua voz, ouço um: “Hi Marcelo, it’s Lady Gaga”.  Pânico, paralisia facial e um grito: “What???? How????”, e só então a gargalhada do Seth. Eles a estavam fotografando para a “Rolling Stone” (recorde de vendas da história da revista, tá? muah!) e acabavam de pegar uma Polaroid autografada para mim. Dias depois, mais uma surpresa: Lady Gaga faria uma série de shows no Madison Square Garden e convidou o Terry para a estreia. Como americano não é como brasileiro, que não reconhece as coisas que você faz, ele elegantemente me convidou para ser seu “plus one”, afinal eu sempre havia falado dela e sou fã declarado.

    06 de julho de 2010, 19:00. Encontro o Terry na sua casa no SoHo, onde um motorista espera para nos levar para o show. Convites, ok. Credenciais para backstage, ok. Terry terá que sair no meio do show para ir para o aeroporto, pois vai para Paris nessa mesma noite. Tentou mudar a data do trabalho para ver o show, mas não conseguiu. Posto isso, acho que não é dessa vez que vou conhecer a Gaga.

    20:00, Madison Square Garden. Ficamos na porta fotografando o público. Ali, encontro alguns amigos. Entre eles, Diogo Kühner (subsecretário de esportes do Rio de Janeiro), Fernando Altério, o arquiteto André Meloni e o galerista português André Viana. Na plateia, ao nosso lado está Stephen Gan, diretor criativo da “V Magazine”. Terry faz a encomenda: “Steve, terei que sair mais cedo para ir para Paris, mas o Marcelo é um grande fã. Você o levaria até o camarim e o apresentaria à Gaga. Não deixe de tirar uma foto dos dois”. Stephen diz que “claro, com o maior prazer” e eu penso “f…, vou conhecer a mulher!”. Antes de começar ainda recebemos a ilustre visita do Nicola Formichetti, stylist responsável por absolutamente TODOS os looks dela, seja nos shows, aparições, capas, clipes e editoriais. Uma cabeça extremamente criativa, um apaixonado por moda que encontrou em Lady Gaga o seu melhor e maior meio de expressão. Gaga por sua vez encontrou nele o cara capaz de atender aos seus desejos fashion. Dois anos atrás eu vi o Nicola falar no Pense Moda. Ao ser questionado sobre como as questões sociais, políticas e /ou econômicas interferiam no seu trabalho, ele respondeu simplesmente: “De forma nenhuma. Meu trabalho é criar belas imagens e difundir o conceito de moda. Essas questões não me interessam quando estou criando”. Pá!

    21:00, começa o show. Mais uma vez, Gaga surpreende. Aquele show do Radio City não existe mais. Agora temos uma superprodução, com vários cenários, muito mais músicas (novas, antigas e até inéditas) e seus delírios fashion elevados à potência máxima. Não há roupa que a detenha. Não há salto que a intimide. Ela encara todos os figurinos e com eles canta, dança, se joga no chão, se diverte e nos diverte. Toca piano com a bota Louboutin, diz que, assim como a Fada Sininho, precisa de aplausos para não morrer e faz um discurso emocionado: “Há apenas dois anos eu estava aí, nessa plateia, de onde assisti Cher, Madonna, Elton John, Kiss, Rolling Stones… E pensava ‘um dia eu vou subir nesse palco’. Eu estou aqui e espero servir de inspiração para cada um de vocês. Não acreditem se alguém disser que você não é bonita o suficiente, talentoso o suficiente, se não dança ou não canta o suficiente, pois eu estou aqui e um dia vocês também podem estar. Eu amo Nova York, sou daqui e não existiria sem Nova York. Hoje os freaks estão todos trancados… do lado de fora do Madison Square Garden”. Logo em seguida, pega uma espécie de cajado com um refletor na ponta e aponta para a plateia. Comenta looks, faz um e outro comentário, aponta… para nós (me borrei todo) e diz: “Oh, there are my friends Terry and Stephen. Hi friends!”

    22:00. Logo após Speechless, Terry se despede e sai em direção ao aeroporto. Alguns minutos depois, um BBM: “Como ela é boa! fiquei tão triste por ter que sair que estou chorando!”.

    23:00. Termina o show, Nicola vem nos pegar e nos leva ao camarim. São cerca de dez convidados lá dentro. E lá estou eu, de frente para a tal Lady Gaga. Como ela é? Bom, é uma menina. Tem 24 anos. Conversa animadamente, pergunta se gostamos do show, ouve o que a gente fala, fala coisas interessantes, apresenta o namorado (gaaaaaato), pergunta pelo Terry e diz para quem quiser ouvir: “Esse cara (Stephen Gan) foi quem me deu a minha primeira capa importante, foi o primeiro a apostar em mim!”. De novo, americano sabe dar crédito… Digo que sou fã dela, mas também grande admirador do Nicola, ao que ela responde: “Se você o admira, imagina eu!”. O papo corre solto e eu, que tenho simancol, me despeço para que os amigos fiquem à vontade. Antes de sair, Stephen cumpre a promessa e faz fotos nossas com o meu BlackBerry.

    Fui de novo ao show e fiz uma última constatação: sua performance é verdadeira e apesar de falar coisas similares, seus textos são espontâneos. Na segunda vez, por exemplo, ela já não falava da emoção de pisar no palco do Madison Square Garden, mas descreveu a alegria que sentiu ao reunir uma multidão de 20.000 pessoas para uma aparição que fez de manhã no Rockefeller Center.

    Mas afinal de contas, por que essa admiração desenfreada por essa menina? Aqui vão meia dúzia de motivos:

    01_ Fora a música (que já seria suficiente), eu acho que Lady Gaga já deixou sua marca para sempre na história do POP mundial por ene motivos. Ela é a artista que sabe do que está falando e só fala sobre o que conhece. Usa sua formação musical (estudou na Juliard) para criar músicas simples, que conseguem retratam com precisão siuações e conflitos da sua geração. Conversa com o público (às vezes até demais), levanta a bandeira dos esquisitos e gasta tempo e acordes para descrever situações prosaicas, como na divertida “Just Dance”, que fala daquela sensação que todos um dia sentimos, quando “bebemos vinho demais” (se fosse só vinho tava bom) e já não sabemos mais  nome do clube, quem é o DJ, vemos tudo embaçado, perdemos o celular, mas quer saber, continue dançando que vai ficar tudo bem!

    02_ Ela reaqueceu a indústria fonográfica e conseguiu VENDER milhões.Veja bem, vender!

    03_ Reinventou e fez renascer o videoclipe. Soube fazer bom uso do merchandising (nos clipes e nos shows) e com isso viabilizar superproduções, que a essa altura já duvidávamos que voltariam a existir, já que a indústria andava desacelerada e a internet aparentemente não justificava grandes investimentos em clipes.

    04_ Na Era da internet, ela sabe se mover na velocidade da luz. Não perde tempo. Se reinventa todos os dias, explora todas as possibilidades. Logo, se acabar amanhã, já terá feito muito.

    05_ Ela encoraja seus fãs a se aceitarem e se imporem como são. Recentemente, o patinador Johnny Weir (outro de quem sou fã), deu um baile em dois jornalistas canadenses que fizeram uma piada sobre o fato dele se apresentar montado ao som de “Poker Face”. Disse na entrevista coletiva em Vancouver: “Se querem falar sobre o meu desempenho como atleta, estou aqui, mas não admito que falem da minha vida pessoal. Tenho a sorte de viver na mesma época que Lady Gaga e faço parte de uma geração que não quer ser julgada por ir para a cama com essa ou aquela pessoa. Esse conceito de masculinidade e femininidade é cafona.”

    06_ Madonna influenciou a moda, ok. Gaga fez o caminho oposto. Mostrou o quanto a moda é importante como forma de expressão do indivíduo. Valorizou a moda e não pensou duas vezes antes de dar de ombros para a crise mundial e colocar a moda lá em cima, voltando o foco para os criadores. Mistura o novíssimo com os clássicos, com criações próprias e bota tudo na mesma panela. Dá a cara pra bater, mas segura o look. Endossa os delírios criativos dos estilistas, usando um Armani de tubos plásticos, os lindos (e imagino que desconfortabilíssimos) sapatos McQueen e com isso joga por terra a resignação com a ideia de que “o que se mostra na passarela não é para ser usado”. Para Gaga é. Quanto mias esquisito, quando mais ousado, quanto mais delirante, mais chances a roupa tem de sair do seu armário. E com isso ela valoriza a moda e estimula o interesse pelo novo, pelo individual. Seus fãs ousam, inventam, improvisam, se montam. Quem tem grana, investe. Quem não tem, se vira como dá, faz em casa, garimpa peças usadas, mas seus little monsters gastam tempo elaborando looks. O resultado é uma plateia divertida, montada e, o mais importante, repleta de jovens que pensaram no que vestir e consomem moda.

    Lady Gaga é, no bom sentido, biscoito fino para as massas. POP da melhor qualidade. E no sentido mais amplo da palavra. “POP” quer dizer POPULAR.  Cult é outra coisa.

    *Marcelo Sebá é diretor criativo, já colaborou com marcas brasileiras como Ellus, Forum e Triton e foi diretor de marketing da Diesel no Brasil. Atualmente é responsável pela imagem das grifes Sergio K e Vide Bula.

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