Acho essa história de comemorar dia da mulher muito chata. Acho superficial, machista, alienada. Na verdade fico me perguntando que tipo de evolução as mulheres comemoram? Quais foram as conquistas efetivas?
O que eu vejo por aí é um monte de mulheres presas em conceitos retrógrados, se exigindo magras, gostosas, produtivas, bem produzidas (inclusive comprometendo a saúde com uso contínuo de sapatos com salto alto para estarem “mais belas”), devidamente maquiadas, com cabelos perfeitos, unhas “feitas”, depilação “em dia”, bem sucedidas profissionalmente, mães dedicadas, esposas compreensivas, donas de casa eficientes, boas amigas, filhas e vizinhas, cultas, inteligentes, bem resolvidas emocionalmente e dispostas a tudo sexualmente. Mulheres modernas enfim?
Dia da mulher tem que ser todo dia, mas pra aproveitar o buchicho do 8 de março: acabo de assistir à peça teatral “Filha, mãe, avó e puta – uma entrevista”, que é baseada na obra homônima da Gabriela Leite, publicada em 2009. Ela está em cartaz no CCBB de São Paulo, e, inspirada por ela, quero aqui prestar uma homenagem às mulheres de verdade, que têm a sabedoria de se aceitar esteticamente, coragem de assumir seus ideais e medos, e de batalhar pra viver a liberdade de sentimento e de expressão.
Gabriela Leite representa tudo isso muito bem com sua história de vida incrível. Nascida em São Paulo, foi criada na Vila Mariana, passou em segundo lugar no vestibular da USP, estudou Filosofia e Sociologia, teve duas filhas (hoje tem netos), criou a ONG Davida e a marca Daspu, é conhecida e respeitada internacionalmente pelo seu ativismo pelos direitos humanos e combate à AIDS entre prostitutas, e escreveu essa sua autobiografia que merece ser lida.
Chega de hipocrisia. Chique e moderno é ser feliz.
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*Daspu é tudo de bom: daspu.com.br