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    Diálogo em verde e amarelo
    Diálogo em verde e amarelo
    POR Redação
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    Frame do vídeo Amo Moda Amo Brasil

    No último domingo, ficamos sabendo que Dilma Rousseff vai continuar na presidência do nosso país pelos próximos quatro anos. Para o universo da moda, pouco importa se o governo veste vermelho ou azul. O que importa é que o verde e o amarelo sejam as cores favoritas da presidente. É preciso que essas cores deem o tom da administração do País, pois ela terá de governar para todos os brasileiros – o que inclui os milhões que vivem da indústria da moda, de norte a sul, de leste a oeste. Juntos e misturados.

    Com que cores vemos o futuro da indústria de criação e confecção no Brasil? Serão cores viçosas e intensas? Ou desbotadas e indefinidas? A definição desta paleta está mais ligada a políticas públicas do que supõe a maioria. O destino do setor está tão, ou mais, ligado às engrenagens de Brasília do que o de outras indústrias que há muito ocupam a pauta dos políticos. Quem só enxerga o brilho do mundo da moda e acha que ele independe do sistema político está totalmente cego.

    A capacidade de inovar em design e construir marcas fortes é determinante para a sobrevivência de um setor fortemente pressionado pela globalização. Só que enquanto a iniciativa privada tece uma trama cheia de criatividade e eficiência, a falta de atenção do governo vai desmanchando estes mesmos pontos. Tenho dito isso há pelo menos 20 anos. O resultado é que cada avanço custa muito mais tempo e esforços.

    A complexidade tributária, por exemplo, é responsável pela redução da nossa competitividade nos mercados interno e internacional. Basta pensar que na União Europeia, que tem 28 países-membros, a legislação tributária foi simplificada para garantir a livre circulação de mercadorias entre os países, enquanto que no Brasil, cada um dos 26 estados pratica uma alíquota de ICMS. A questão tributária é determinante para a competitividade brasileira inclusive diante dos importados.

    A logística e a infraestrutura deficientes são outro problema grave. Para indústrias que dependem da agilidade nos processos para atender aos desejos imediatistas do consumidor, a eficiência no transporte e circulação das mercadorias é fundamental.

    Outro ponto que afeta diretamente a evolução da cadeia produtiva de moda no Brasil, e que é prioridade máxima, é a educação, que impacta a qualidade em cada um dos elos dessa cadeia. É preciso qualificar desde o operário nas fábricas até os estilistas, passando por modelistas, costureiras, bordadeiras, gestores, só para citar algumas profissões.

    A indústria da moda possui 300 mil empresas formais e representa 5,5% do PIB da indústria de transformação, tendo gerado R$ 140 bilhões em 2012, segundo dados da Texbrasil. E mais: é um setor democrático em que 83,3% das indústrias são de pequeno porte. O setor é o 2° maior empregador da indústria de transformação, sendo responsável por 1,7 milhão de empregos diretos – 8 milhões, se somados os indiretos –, dos quais 75% correspondem à mão de obra feminina. Ou seja, qualquer política pública que seja desenvolvida para esse setor impactará milhões de famílias diretamente e toda a sociedade indiretamente.

    Não dá para adotar a postura simplista de que o mercado se organizará naturalmente. Precisamos estabelecer aonde queremos chegar e onde queremos estar em 20 anos, e traçar a rota para chegar lá. Claro que surgirão turbulências no caminho, como tantas que já surgiram, mas nessas horas é ainda mais importante ter um destino definido. Isso é ser estratégico, é ser proativo. Quem vive ao sabor do vento é apenas reativo.

    Por acreditar desde sempre em nosso país, lançamos a campanha Amo Moda Amo Brasil para valorização da cadeia produtiva e criativa da moda brasileira. A cadeia produtiva do setor têxtil e de confecções é o elo fundamental da indústria da moda, engloba vários segmentos industriais independentes entre si, cuja integração é parte essencial de sua organização produtiva. Num momento em que países como Estados Unidos, Itália e Inglaterra buscam recompor parte dos seus parques produtivos, o Brasil ostenta uma posição invejável como um dos principais produtores mundiais de algodão, denim e malharia, líder na criação e produção de moda praia e um dos últimos países do mundo que tem um artesanato original e com volume de produção digno de indústria. A ideia é estimular os brasileiros a dar ainda mais luz ao seu talento e a se engajar na defesa e valorização da moda.

    Entendemos que o futuro se cria agora, no presente. Ao término de mais uma eleição, queremos compartilhar visões de futuro. O Brasil tem uma lista de virtudes que nos fazem apostar no sucesso da moda: um mercado interno gigantesco, vigoroso, ávido por novidades; gente criativa; e todas as etapas da cadeia produtiva. Mas é preciso mais. Precisamos de um governo que definitivamente olhe para o presente e para o potencial deste setor e que atue decisiva e estrategicamente para consolidar essa máquina maravilhosa que é a indústria da moda. Observar a importância da cadeia produtiva da moda na economia nacional e o seu papel no cenário internacional me dá a convicção de que fomentar a evolução deste setor é um ato de patriotismo.

    Mais do que nunca, o diálogo com a moda deve ser verde e amarelo. E que venham os próximos anos.

    *Paulo Borges assina uma coluna semanal no FFW. Seus textos são publicados sempre às terças, às 18h, neste canal do Blog. Fique ligado aqui!

    + Leia a coluna de estreia de Paulo Borges no FFW

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