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    Prada, a marca com o melhor diálogo entre moda e arte
    Roy Lichtenstein na exposição Recto Verso, com abertura no dia 03.12, na Fondazione Prada
    Prada, a marca com o melhor diálogo entre moda e arte
    POR Redação
    Roy Lichtenstein na exposição Recto Verso, com abertura no dia 03.12, na Fondazione Prada

    Roy Lichtenstein na exposição Recto Verso, com abertura no dia 03.12, na Fondazione Prada

    Seis meses depois de sua abertura, em maio passado, a Fondazione Prada mostra que não só já conquistou o seu lugar ao sol, mas que o seu espaço nas artes não se resume a exibição, mas a discussões das boas. Depois de uma incensada inauguração com elogios ao projeto arquitetônico com intervenções de Rem Koolhaas numa destilaria desativada num antigo bairro industrial de Milão, os holofotes se viram para a proposta cultural de Miuccia Prada e seu marido, Patrizio Bertelli (diretor executivo da Prada), colecionadores de arte moderna e contemporânea, provocadores por natureza. A estreia, em setembro, da performance de dança Atlante del Gesto, no principal prédio da fundação (que mescla os antigos galpões já existentes com três novos edifícios do premiado arquiteto holandês), reiterou e deu mais fôlego aos temas que parecem moldar a personalidade artística do espaço: uma estética que considera o erro, ou a imperfeição, como qualidade que agrega valor às relações com o corpo e com a condição feminina na cultura e na sociedade. Até o fim do ano, duas mostras incluem o olhar sobre o banal (ou trivial) por um outro ângulo no pacote de questionamentos feitos pela marca italiana. No próximo sábado (7), será inaugurada a retrospectiva do italiano Gianni Piacentino, com 90 obras que se apropriam de objetos de consumo tradicionais como carros, aviões e estiletes, para criar formas geométricas e conceituais, passeando entre o Pop e o Minimalismo. No dia 3 de dezembro, a mostra Recto Verso expõe o avesso de telas de artistas como Roy Lichtenstein e Lucio Fontana da coleção particular de Miuccia e de outras instituições para revelar técnicas e até mensagens criptografadas feitas numa parte do quadro considerada sem valor, meramente funcional.

    O interesse da moda pela arte não é novo, e tem exemplos muito bem sucedidos no passado: o vestido Mondrian de Yves Saint Laurent dispensa mais explicações. Geralmente, porém, as marcas se associam à arte para falar de si mesmas, das bolsas com estampas de Yayoi Kusama e Richard Prince na Louis Vuitton às exposições em grandes museus que fazem retrospectivas da história das grifes, de Jean Paul Gaultier e a própria Vuitton (em dezembro próximo) no Grand Palais ao novo museu Silos de Armani, que exibe roupas e conta a trajetória de moda do estilista. Alessandro Michele, novo diretor criativao da Gucci, inaugurou recentemente em Xangai uma exposição em que sete artistas interpretam a noção do que é ser contemporâneo. Mas sua ação mais famosa é a #GucciGram, no Instagram, para que artistas criem obras com alguma referência à Gucci. Com a Fondazione Prada é diferente: a grife de Miuccia escolhe temas, muitos com foco na relação com o feminino, para exposições que nada têm a ver com moda mas levantam discussões que acabam permeando questões abordadas pela marca em suas coleções.

    Instalação permanente de Louise Bourgeois, da série Cell, na Fondazione

    Instalação permanente de Louise Bourgeois, da série Cell, na Fondazione

    Não à toa, uma das obras permanentes da fundação é a da francesa Louise Bourgeois. Feminista, considerada a criadora da arte confessional, linguagem baseada na experiência autobiográfica do artista (pense na britânica Tracey Eminen como uma de suas sucessoras no gênero), Bourgeois ocupa uma das salas da torre batizada de Haunted House (Casa Mal Assombrada), onde também ficam os trabalhos do norte-americano Robert Gober. Em Cell (Clothes), de 1996, parte de uma série de instalações com o mesmo antetítulo (Cell), a artista convida a espiar, pelas portas esburacadas do que poderia ser um quarto de uma casa velha e abandonada,a intimidade de sua história lembrada em vestidos e roupas da própria Bourgeois, com corpos deformados pelo tempo e pela memória, feitos de tecidos, vestindo algumas das peças. Um dos únicos momentos em que a roupa é mencionada de maneira literal, a imagem, como a de todas as outras obras da fundação, não tem qualquer relação com moda, mas faz pensar também sobre ela.

    Montada na sala com chão e degrau de acrílico transparente high-tech de Rem Koolhaas, a exposição Serial Classic trouxe, até o fim de agosto, um batalhão de esculturas clássicas misturadas entre originais e versões pop dourada que nada pareciam remeter ao mundo fashion. Numa auto-ironia, Miuccia, com a ajuda do curador Salvatore Settis, estava colocando em discussão o significado da cópia, não na China antiga, mas bem mais perto de nós: no berço da civilização ocidental, mostrando que a reprodução de esculturas na Roma e na Grécia antiga tinham tanto valor quanto a peça original. Maroto, em se tratando de Prada, uma das marcas mais copiadas do mundo contemporâneo. Orquestrada pelo coreógrafo italiano Virgilio Sieni,diretor do setor de dança da Bienal de Veneza, a performance de dança Atlante del Gesto, que ocupou o mesmo espaço por três semanas de outubro, substituiu a experiência de observar esculturas estáticas e com padrão estético semelhante por corpos em movimento, de idades, silhuetas e texturas de pele totalmente diferentes. Dividido em cinco atos, o espetáculo misturava crianças, jovens, adultos e idosos de 10 a 80 anos, bailarinos profissionais e amadores, em coreografias que convidam a interpretar as imperfeições trazidas pelos gestos e corpos de cada um dos integrantes. O resultado é menos simplista do que um padrão matemático de simetria, mais complexo, rico e heterogêneo.

    “Eu queria fazer com que a cultura fosse atrativa para os jovens, como uma parte necessária da vida deles. Minha intuição – que, depois de muitos anos, descobri ser minha principal qualidade – era a de que seria bom ter um lugar onde as pessoas pudessem conviver com ideias”, disse Miuccia Prada em uma entrevista ao jornal britânico The Observer, sobre a Fondazione Prada. Com arte e design de ponta que, além de Koolhaas, inclui um bar assinado pelo Wes Anderson (pensado, segundo o cineasta, não como cenário de um filme mas como ambiente inspirador para se escrever um), a fundação passa longe da ideia exclusivista do high fashion ao qual a marca pertence, vende café espresso a 2,50 euros, uma pechincha para o padrão milanês, e convida a passar o dia em suas instalações, que ainda contam com um cinema, por 10 euros. Os recepcionistas, sem exceção, recebem todos com um discreto e solícito sorriso, numa simpatia na medida (na minha visita à fundação, em junho passado, foi assim). Representam com exatidão o espírito intelectual excêntrico amigável que a Prada tem também em sua moda, mas não em suas lojas, cujo volume de endereços, clientes e vendedoras torna impossível reproduzir. Um ambiente, no fim, complementa o outro, sem nenhuma aparente conexão além do nome Prada. A intuição de Miuccia, ao que tudo indica, realmente não falha.

     

     

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