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    História de novela: conheça a trajetória da modelo Lóris Kraemerh
    História de novela: conheça a trajetória da modelo Lóris Kraemerh
    POR Redação

    abre-modelo-loris-kraemerhLóris Kraemerh no dia da entrevista ao FFW ©Juliana Knobel

    A história da menina bonita de família humilde que vira modelo e conquista fama e dinheiro é sempre associada aos contos de fadas, mas no caso da paulistana Lóris Kraemerh, de apenas 19 anos, a coisa está mais pra uma novela mexicana mesmo. Começando pelo começo: o trabalho de parto de Lóris começou dentro de um helicóptero, para desespero do seu pai, que pilotava a máquina, e de sua mãe, que não sabia que estava grávida. Desde então, a vida da hoje modelo da agência Joy foi uma sequência de reviravoltas que incluem: a perda do dinheiro da família, violência doméstica, o abandono paterno, a mudança para a favela e o trabalho infantil. Em relato gentilmente concedido ao FFW, conheça algumas das (muitas) histórias de Lóris Kraemerh, por Lóris Kraemerh:

    O nascimento

    “Eu nasci de cinco meses e meio. Minha mãe tinha 17 anos, não sabia que estava grávida, e meu pai era piloto de avião. Eles estavam dentro de um helicóptero, ela começou a passar mal, eu comecei a nascer e ele entrou em desespero. Estavam só os dois no helicóptero, meu pai pousou no [hospital] Albert Einstein e foi. Eu tinha parado no meio do caminho, e o médico falou ‘olha, a gente vai tirar, porque ou é a mãe ou a criança – a criança vai morrer, ela não vai aguentar’. Deu que eles tentaram, tentaram e tentaram falar que eu não ia sobreviver: e estou aqui, firme e forte. Fiquei três meses e meio na incubadora e foi assim”.

    Época de vacas gordas

    modelo-loris-kraemerh-início-da-carreira“Eu tive uma ótima educação, sempre viajei, morei fora, meu pai por muito tempo foi piloto do governador do Rio Grande do Sul, depois foi ser comandante da VARIG. Tive uma vida muito boa, ele ganhava muito bem. Eu morava em lugares incríveis, tinha arte dentro de casa. E um dia você ter tudo isso e no outro você não ter o que comer… é uma coisa que te marca, eu lembro bastante. Vou colocar assim: eu fui começar a viajar de avião comercial quando comecei a  modelar (à esq., polaroid do início da carreira de modelo); antes disso era só particular”.

    A (não) relação com o pai

    “Meu pai era de uma família muito bem sucedida no Rio Grande do Sul, até que se meteu com alcoolismo e começou a bater na minha mãe. Um belo dia ela estava grávida de 9 meses do meu segundo irmão, cozinhando há uma semana sem dormir – ela era doceira e fazia biscoitos pra bingos – e meu pai sem o emprego, bebendo horrores, perdendo tudo porque nunca aprendeu a gerenciar o que tinha. Olhei pra minha mãe e falei ‘quero ir embora, morar com a nossa família em São Paulo’. E quando ela falou ‘vou separar’, ele disse, ‘então tá, você escolhe: já que quer ir embora, ou você fica com as crianças, ou fica com o dinheiro e a casa’. Minha mãe falou ‘fico com as crianças’, e ele fez a gente sair só com a roupa do corpo.

    Viemos pra São Paulo e minha mãe entrou com processo pra pedir pensão. Nunca mais ninguém o encontrou. Hoje em dia, depois de muito tempo procurando, eu sentei na internet e, de todas as tentativas possíveis, o achei no Skype. Liguei e falei: ‘E aí? Conhece? Tá sabendo quem é?’. E foi de onde começamos a conversa. A relação que a gente tem não é das melhores. Eu entendi que na época ele era um cara doente pra ter feito isso – e minha mãe também era uma pessoa bem problemática, então os dois se distanciaram porque um não aguentava mais olhar pra cara do outro. Ainda não nos encontramos… não sei se tenho essa coragem, prefiro ficar só no Skype. São 11 anos sem se ver”.

    A mudança para São Paulo

    “A gente não tinha nada, eu lembro até de ter roubado uma Barbie, porque nem os brinquedos meu pai deixou eu levar. Éramos a minha mãe e três crianças, sendo um recém-nascido, e ficamos um mês circulando: uma noite na casa de um tio, outra noite na casa de outro, só que na família da minha mãe ninguém tinha dinheiro nem estrutura pra sustentar outra família, então a gente foi pra favela. Foram dois anos morando naqueles prédios CDHU de Sorocaba. Na época não era o que é hoje, era barra-pesada mesmo. Vi gente sendo morta, testemunhei venda de drogas, dealer entrando em casa, acerto de conta… já tive que dar refúgio pra traficante senão ele matava a família inteira”.

    modelo-loris-kraemerh-entrevista-ao-ffwLóris Kraemerh durante entrevista ao FFW ©Juliana Knobel

    Os anos felizes

    “Eu tenho muitas lembranças boas dessa época. Por mais que eu tivesse dinheiro com o meu pai, ele nunca dava atenção, batia muito na minha mãe, então por mais que tivesse conforto material, não era uma coisa afetiva. E a minha mãe era sempre muito doente da cabeça, histérica. Apanhei muito dela quando eu era pequena, porque meu pai batia nela, ela se estressava, e tenho todos os ossos do meu corpo quebrados. E quando a gente foi morar na favela, foi uma época que a gente não tinha dinheiro – se a gente não se unisse, íamos morrer de fome, virar sem teto, então todo mundo se ajudava. Foi uma época em que, por incrível que pareça, eu fui feliz, e descobri o que é o amor de família. Não tinha o que comer… não tinha, era o amor mesmo! A vida te ensina de formas que você não pode imaginar. Fui muito feliz morando na favela, por incrível que pareça”.

    O primeiro trabalho

    “Eu sustentei a casa desde os 9 anos, quando comecei a trabalhar. Meu primeiro emprego foi em loja, arrumando estoque, limpando, lavando banheiro… Eu era desse tamanho [mostrando a altura com os braços] e ninguém falava que eu tinha 9 anos – mas a pessoa que me contratou sabia a minha idade. É que nesses lugares não tem nenhum policial pra checar se você tá trabalhando ou não. Foi nessa época que eu acordava às 5 da manhã, andava 9 km pra ir pra escola, trabalhava e voltava pra casa sabe-se lá que horas. Já fui babá, fui vendedora, ajudei em restaurante… fiz bastante coisa”.

    O início da carreira de modelo

    modelo-loris-kraemerh-vogue-italia“Comecei com 15 anos, mas nunca foi o meu sonho. O meu sonho era o exército, eu sempre fui molecona. Foi uma época que eu estava sem emprego e a minha mãe e o meu padrasto se separaram — ele era caminhoreiro e a gente havia se mudado para o interior em 2001 por causa do trabalho dele. O [scouter] Newton Oliveira veio pra minha cidade na época, e deu no rádio, aquela coisa de cidade pequena, e eu falei, ‘não vou’. Aí lembro até hoje o dia que cheguei em casa e a minha irmã  [a mais nova da família, hoje com 8 anos] pediu pra comer alguma coisa — eu abri os armários e não tinha nada, nada, nem água, tava uma situação horrível. Falei: ‘É isso que vocês querem que eu faça? Então eu vou’. Fui, fui a única que passei na seleção, quatro dias depois estava em São Paulo trabalhando”.

    Época de vacas magras

    “Um dos trabalhos mais marcantes foi a primeira “Vogue” Italia (à dir., Lóris no editorial de junho de 2008), que foi minha primeira viagem pra Paris. Eu não falava inglês, não falava francês, e foi o dia mais frio em Cannes, onde a gente fotografou. Estava fazendo 3ºC e eu estava de biquíni dentro da água. (risos) É, foi bem inesquecível. Eu não gosto de frutos do mar, mas os franceses adoram; então você imagina um moleca de 15 anos, sem saber pedir, sem conseguir ler um cardápio decentemente, sentada no restaurante e todo mundo comendo polvo vivo, escargot e o caralho a quatro, e eu tipo ‘pelo amor de deus, eu quero um x-tudo, batata-frita’ (risos) — eu passei muita fome naquele trabalho”.

    Percepção do mundo da moda

    “Não me irrito com o lado ‘glamour’ da moda porque eu cresci com dinheiro, tive uma boa criação. Mas tem certos pontos e atitudes desnecessárias que me irritam, como falta de educação, gente que abusa do poder; booker de 50 anos que vai dar um esporro gritando com uma menina de 12 anos que acabou de sair de casa. Eu também já fui mal tratada várias vezes. Muito. Gente falando que ‘você não serve pra esse trabalho, você é horrorosa’… ou você dá ‘bom dia’ e a pessoa fica olhando pra sua cara em silêncio. Daí você tenta mais uma cinco vezes e a pessoa fala ‘você ainda não entendeu que não é um bom dia?’.

    Mas tem a parte boa também; eu gosto muito de viajar e conheci muitos lugares sendo modelo. Como eu não tenho família, eu sempre falo que minha família acaba sendo fotógrafo, stylist, cliente; eu tenho uma família nova todo dia, conheço muita gente, tenho experiência de vida e uma bagagem enorme”.

    modelo-loris-kraemerh-durante-entrevista-ao-ffwLóris Kraemerh durante entrevista ao FFW ©Juliana Knobel

    Comer, Rezar, Amar

    “No começo da carreira eu era um pintinho perdido no meio do galinheiro, não sabia onde estava, o que estava fazendo… porque eu trabalhava muito, era uma pirralha, tinha acabado de sair de casa, onde eu passava fome, e falava ‘O que estou fazendo aqui?!’. Cheguei a pensar em desistir da carreira várias vezes. Em um dos momentos em que o trabalho estava devagar, pensei: ‘Não é pra mim, não tenho sangue pra fazer isso, então prefiro ir pra casa e cuidar da minha mãe, dos meus irmãos’. Mas daí pensei: ‘Tô sendo bem retardada, hein? Acorda, você tá aí na bad porque quer!’. Levantei e fiz acontecer de novo.

    Mas até parei uma vez, por quatro meses. Eu nunca tinha tirado férias, nunca tinha ido pra casa no Natal; daí tirei férias e eu não tinha nem telefone, ninguém me achava. Só depois apareci e falei, ‘oi galera, vamos começar de novo’. Foi no ano passado, na época que eu estava com o meu ex, e ele me ajudou nessa empreitada de se auto redescobrir e reeducar. Foi como aquele filme “Comer, Rezar, Amar”. Aprendi tudo de novo. Porque eu não sabia mais comer direito, dormir, ir ao banheiro, o que era ser uma pessoa de verdade – eu sentia que estava o tempo todo montada. Isso não é saudável. Parei, aprendi tudo de novo e comecei do zero, new face”.

    modelo-loris-kraemerh-editorialLóris Kraemerh ©Reprodução

    Os irmãos

    “Hoje a gente tá muito afastado, porque minha mãe me expulsou de casa e eu não posso mais chegar perto deles, o que me deixa muito triste porque meus irmãos, pô… dou a vida por eles, mataria por eles. Sobre eu ser modelo, acho que eles gostam, mas sentem muita falta e de uma certa forma sentem raiva porque estou sempre viajando e perdi muito da infância deles, eu que sempre fui uma pessoa muito presente, que fui a mãe deles de fato”.

    “Eu queria que eles se lembrassem de mim como uma pessoa que sempre se importou e fez de tudo por eles. Porque tudo o que eu fiz e que eu faço é por eles. Nada é por mim, tudo é por eles”.

    Futuro

    “Aprendi que nada dura pra sempre. Você tem que estar sempre preparada porque a vida, quando resolve falar ‘ei, acorda, você está muito folgado aí no seu canto’, te dá uma rasteirinha e você tem que aprender a levantar e lidar com a situação. Foi o que aconteceu comigo desde criança, desde muito cedo… é uma coisa que me ajuda, porque eu sei lidar com isso”.

    “Para o futuro, penso em voltar a estudar, definitivamente. E sempre gostei dessa coisa meio militar, quem sabe eu não viro uma fuzileira? Minha booker fala que eu tenho que ser atriz; mas não sei se eu vou pra esse lado. Talvez fotografia. O meu sonho é ser mãe. Montar uma família. Não sei as outras coisas ainda, mas definitivamente quero ser mãe”.

    + Veja mais imagens de Lóris Kraemerh na galeria abaixo:

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