Por Juliana Lopes, de Milão
A entrada final do desfile Inverno 2012/2013 da Prada ©Divulgação
As coleções da Prada são importantes porque, no mínimo, contam uma história muito bem pensada. É difícil imaginar o tsunami de ideias que Miuccia Prada deve ter antes dos looks prontos na passarela. Mas é impossível não perceber a finalização absurdamente organizada. Por isso a Prada merece ser estudada aos poucos, para ser ainda mais admirada. O FFW entrou no showroom da marca e tocou, viu, bem de pertinho, as cores, as texturas e as modelagens ultra vanguardistas. O espaço é na via Fogazzaro, em Milão, no mesmo lugar onde acontecem os desfiles.
Algumas palavras-chave nos guiam para entender esta coleção de inverno: revisitação de clássicos, preciosidade, alta costura. Mas nada básico, tudo feito com mãos transgressoras, que transformam um fraque em um look feminino e sexy (é o grande hit da coleção!). E que propõem aplicações de “joias” fake em modo artesanal para criar algo completamente moderno. Sem contar os sapatos luxuosíssimos (e mega-altos) de couro, que não perdem a nobreza ainda que revestidos de nada menos que… borracha!
Passo a passo da coleção:
1) Os materiais
Da esquerda para a direita: tricotine, jacquard e a “pelliccia” italiana ©ImaxTREE
Já dizia Franca Sozzani que design bom é design feito em matéria prima boa. Nisso os italianos são exigentes (para o bem!). A maioria dos grandes estilistas se orgulha de produzir praticamente tudo na Itália partindo da matéria prima dos fornecedores italianos. Miuccia Prada não agiria de outra forma, não é?
Nesta coleção, três materiais se destacam: o tricotine, o jacquard e os pelos (“pelliccia”). São materiais que respondem bem à alfaiataria e ao mesmo tempo são gostosos de tocar. O tricotine tem uma aparência quase austera, mas é super leve, facilita movimentos, não engessa. O jacquard permite uma textura mais pesada nos desenhos propostos pela marca, que nos fazem relembrar de tapeçarias vintage. Os casacos de pelos mantém a estrutura da alfaiataria, que não ganha mais volume, simplesmente aquece mais e reforça o ar invernal.
2) A novidade: os fraques
Looks do Inverno 2012/2013 da Prada ©ImaxTREE
A modelagem em geral foi bastante inovadora na Prada. Segundo explicou a assessoria da marca ao FFW, a Prada não havia feito assim com esta intensidade e quantidade essas calças que foram usadas à exaustão, inclusive por baixo de saias. O “fraque” vem como uma peça coringa, e nova. Sai do papel de uma vestimenta masculina e se transforma num look sexy: mais curto na frente, virando quase um vestido atrás e em alguns casos deixando um pedacinho da barriga de fora!
3) Modelagens em geral
Da esq. para a dir.: quem acha demais deixar a barriga de fora usa o casaco com a calça. O colete comprido é quase um vestido. E no final, terninho que valoriza a estampa vintage ©ImaxTREE
Outras modelagens que saem dessa mesma informação de silhueta do fraque nos trazem cortes triangulares para as saias e coletes-envelope, calças curtas e terninhos estruturados. Tudo tem aquela mesma medida de volume, aquela mesma medida de ângulos. Repare que os ombros são definidos, mas não criam volume extra.
4) Detalhes preciosos
“Joias” de plexiglass no fraque preto, que contorna o desenho da peça; no terninho laranja, imitando medalhas; e no colete triangular, imitando as estampas para dar um efeito 3D ©ImaxTREE
As aplicações de plexiglass (tipo de material acrílico) feitas artesanalmente nas peças são outro grande destaque da coleção. Como se fossem joias – e aí vemos um humor interessante, uma ironia do chique que continua chique. A ideia é cutucar de novo (não só nos materiais nobres, mas aqui nesse pedaço sintético que imita algo precioso) o conceito de alta costura. E vemos essas “joias-plexi” usadas principalmente em três modos: criando contornos de desenhos sobre as peças, criando um efeito de medalhas ou brincando com as estampas, fazendo com que pareçam parte da estampa mesmo, só que em 3D.